sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Nunca estamos contentes porque passamos a vida em busca de uma tal felicidade que, na verdade, não existe.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Naturalmente

Acho que tudo tem de ser naturalmente, inclusive o amor. Às vezes tento traçar um rascunho deste, mas em vão. Vão é o meu coração que fica esboçando tolices, pensando gabolices. Ah, como eu queria voltar atrás! Ah, como eu queria nem pensar! Mas voltar não dá. Voltar pra trás? Não seria voltar pra frente? No futuro, seguro, sem você. Sem ninguém, sem saber, sem nem porque. Aliás, porque esses versos? Pra que esse (des)amor reverso? Grande futuro obscuro e complexo!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Versos ocos, palavras ocas IV: Poesia é um orgasmo!

Poesia é um orgasmo.
Entalo. Tosse. Engasgo.
Poesia é um cuspe – mas um cuspe com prazer!
Prazer de jogar na lata do lixo
Isso! Inguiço! Poesia é um feitiço.
Um prazer sem fim
Que não termina no fim
Quer sempre mais e mais e mais 
mais palavras, mais leitores. Mais nada, mais amores.

Orgasmo, organismo  cismo!
Cismo que já tens um, pois a poesia
é o grito máximo
do mínimo que sai de dentro de nós.
Verso-sai-veloz. Verso-sai-veloz.
Vai pro albatroz.
Está em cima, embaixo
Dos pés à cabeça
Está embaixo, em cima da mesa

Poesia é nojenta, branca e grudenta
E tu, que já lês com nojo
Considere-me normal,
pois qui nada há de anormal
Só poesia: poesia oca, poesia lenta
Palavras de afronta, palavras sabor menta

Refresque-se, sorria
que depois da tempestade vem a calmaria.

E a poesia é um orgasmo
Sempre queres mais

{  Mais sempre menos
  E menos sempre mais  }

E se de escreveres não fores capaz
Ou de entenderes não quiseres mais
Não me enterres, não me erres!
Me ache, me encaixe
Pois raramente digo assim:
Prazer mesmo é ter você perto de mim.

domingo, 9 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

Cartas pra ninguém I: só pra desabafar

Hoje é mais certo do que nunca que eu estou tentando preencher o vazio que essa eterna solidão deixa aqui. Talvez seja a hora de assumir a realidade: não vou mais sorrir nem distribuir seus sorrisos por um bom tempo. Vou te lembrar até você cair no esquecimento. Vou te esquecer até que outro alguém me faça lembrar de ti, daí novamente minhas carnes passarão a se consumir de solidão e eu a arder de paixão. Só que aí serão outros sorrisos, outros momentos. Enquanto isso me conformo em ser um drogado não-conformado com seu desamor. Vou tomar minhas doses de recaídas diárias. Vou ficar dopado, ansioso, voltarei a tomar aquele remédio. Vou rir, pensando ser tudo isso bobagem. Vou chorar lembrando as decepções da minha bagagem - um não, uma rejeição. Bastava apenas uma resposta - mas nem isso; só caretas, incertezas e impurezas.

* * *









P.S.: Acabou-se meu mundo e ainda nem é 21 de dezembro.
Cá estou eu deitado, sentido sei-lá-o-que; não estou chorando, só falando comigo mesmo.
Escrevi esse texto só pra desabafar, agora vou dormir pra de ti por alguns instantes não mais lembrar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Diálogos entre eu e eu II

Nenhuma ligação, nenhum resultado, nenhuma resposta. Nada, nem ninguém. Tampouco eu também. Lágrimas, ouvidos e calor. Nada da chuva típica dos filmes dramáticos. Tudo isso é a realidade nua e crua. Não sei até quando vou escrever. Talvez amanhã já não reste mais do que falar ou, se falar, fale repetidamente de tudo o que já foi dito antes. Alguém entende esses círculos? Alguém entende essas voltas? Não, porque ainda que eu mesmo entenda, na verdade não compreendo. Depreendo deprimido reprimido sem sentido. Amanhã saberei; de nada saberei. Amanhã não saberei e então não restarei. Amanhã escreverei; reescreverei – não receberei nenhuma ligação, nenhum resultado, nenhuma resposta. Não restará nada nem ninguém, restarão apenas eu e meu eu também.

E adianta dizer alguma coisa quando faltam as palavras?

Se faltam é porque algo mais está em falta. Você faz falta. Tudo seu faz falta. Cada instante, cada toque, cada olhar. Sei que já não me olhas mais e é por isso que te procuro de noite em meio às sombras, nos meus sonhos, teu olhar. Me vejo preso no nevoeiro, dentro da tempestade, no olho do furacão. Eu sou o nevoeiro, a tempestade e o furacão. A diferença é que queimo de paixão. Vejo luzes: luzes ao meu redor, luzes a me cercar, a me cegar. Raiva, ódio, morte, vida, amor. Uma miscelânea de sentimentos aqui dentro. E não tem volta. Você não volta, nem com escolta. A estrada do tempo te leva pra bem longe. Distante. Eis que já nem te vejo mais. Acordo idoso e, ao meu lado, a fria e gélida solidão. A minha casa é um caixão e eu morri de desilusão.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O que eu quero

Eu avisei. Voltei ao talvez. Voltei a me equilibrar em cima do muro, voltei às perguntas sem respostas, às perguntas infundadas e às respostas indefinidas. Eu voltei às respostas indecisas. Tudo era mais fácil quando não existia a solidão e nem a necessidade de ter, de sentir algo – ou alguém... E sabe, eu era feliz! Agora tudo o que eu tenho feito é buscar continuamente migalhas – e dado também migalhas.
Não, não amo mais! Não, não quero mais! Hoje eu quero paz, hoje eu quero harmonia. Hoje eu quero sim, alegria! – quero descer do muro e me deitar na grama. Quero me apaixonar pelo chão frio e sujo. Quero construir uma barraca no campo. Quero fazer um piquenique. Quero ficar olhando as nuvens e estrelas no céu e inventar com o que elas estão se parecendo. Hoje eu quero de volta a minha simplicidade pueril, mas com a certeza de tudo o que sei hoje. Hoje eu não quero mais me importar com os olhares tortos e perguntas alheias. Eu não quero açoites, nem brigas, nem rotinas: quero sentir o gosto, o cheiro e ver a cor da água; igualmente assim com o vento. Eu não quero ninguém até que eu deixe de ser áspero e ignorante o suficiente e volte a amar outra vez. Eu só quero amar quando amar outra vez. Eu só quero amar quando amar de uma vez. Enquanto isso, vou ficar no meu piquenique, feliz, no chão, de um dos lados do muro. Com um sorriso no rosto, em meu próprio mundinho obscuro.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Se nada do que eu fiz ou disse te toca ou nem ao menos incomoda, então não sei o que pode ser capaz. O que pode mover esse coração? O que é capaz de te tocar? Por que reclamaste de indiferença quando isto tu também fizeste? Aliás, por que ainda pergunto? Pra que tanta vanidade, tanto sofrimento ocasionado por tanta contradição? Pra que viver? Por que apareceste no meu caminho? Bom foi pelo começo, mas no fim me doeu seus espinhos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um sinal?

Ninguém nunca entendeu o que eu disse
Nem eu soube do que estava falando
Eu nunca entendi nada do que me disseram
Tampouco senti pelas palavras que me vieram

Talvez deva tentar parar de falar
Talvez eu voltando a falar "talvez"
Seja um sinal de que não deva tentar outra vez

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Versos ocos, palavras ocas III: Nada, uma granada com simetrias, dois signos, um mau e outro maligno

Eu não me vejo, eu não me sinto
Penso, logo eu minto.
Eu não me acho - eu nem me perco!).
Eu não me vejo, eu me acerto,
mas desacerto tão certo e tão incerto ao mesmo tempo.

Nada. A vida é mesmo uma granada.
Uma bomba atômica em Hiroshima.
Uma mina, uma mina, uma irmã.
Um ditongo, um tritongo,
um hiato. Um vácuo. Nada. Uma granada.
Uma metralhadora no metrô me deixou no bistrô do bifê.

Me perco - me achO.
Me vejo - disfarçO.

Um saco! Um porre! Tomei um porre;
uma porrada. Soco na cara, a tara, a tara.
Palavras repetidas não são em vão; têm dois significados,
dois signos, um mau e outro maligno.
E eu não me vejo, eu não me sinto.
Não me bates com o cinto.
Eu não rimo, eu não minto, nem arrimo, indistinto.

Sou um nada. Nada, uma granada.
Não me vejo nem me sinto.
Penso, logo - lógico! Não minto!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

domingo, 18 de novembro de 2012

sábado, 17 de novembro de 2012

Voltas

Não tem volta.
(Revolta!)
Será que volta?
Desvolta.
Revoltas, sem voltas, em círculos,
dentro de quadrados perfeitos
e circunferentes aos raios do quadro.
A linha é reta, por isso revolta.

Não tem volta!
Revólver, revolver,
revolta, sem volta. Não volta.
A volta é infinita, mas tem um fim.
Finito fim do início
Do meio do final das pontas
Sete pontas e um ponto
no meio
do ápice da pirâmide.

Não tem volta,
por isso é que revolta. Mar em revolta.
Redemoinhos, tempestades, tsunamis;
olho do furacão.
Isso é que revolta,
o fim da linha reta em círculos
espessa, feita de pontos. pontos circulares. Circunferências.
Conferências, displicências, disciplina,
sem disciplina, sem regras, sem nada, oco.
Poesia oca. Círculos, voltas...
reticências... não tem fim...
sem fim! pra mim...

Fim. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ler ou não ler,

eis a questão. Se quiseres saber, opte pela razão. Se leres, serás livre ou prisioneiro, preso pela ignorância ou liberto pela pena e pelo tinteiro. Caso não queiras ler, ficarás impassível de um mundo que não te pertence, nunca pertenceu, tampouco pertencer-te -á. No futuro virão e verás outras obras, outros verões, novos jargões, já antiquados os modernos palavrões. Quem sabe se inda serás? Se viver, verás. Se, então leres, saberás. Tudo é ilusão: palavras vêm, palavrão. Igual, diferente, distante e ciente. E eu já perdi a rima, não sei as regras, ignoro o sabedor, o que me importa é ler e ser lido, meu caro leitor.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Nada.

Desculpe-me (embora sei que não vais aceitar tal pedido)
Por dizer que te amo
Se nem sei do que se trata o amor
Se não sei como palpá-lo
como cheirá-lo, como senti-lo
Se nem sei o que sinto
Se de nada sei
[Tampouco sei quem sou
Se nada restou do que nunca houve

Não há palavras para expressar...

Nada.

sábado, 10 de novembro de 2012

Versos ocos, palavras ocas II ou Um-ainda-desamor [com paráfrases e delírios

Não houveram canções, nem versos, nem sentimentos
Contrastes diversos, ilusões e muitos ressentimentos
Tais contrastes deveras houveram
Tais desastres me naufragaram e me afundaram
Na poesia oca / me atolei /atolei, afundei, poetizei

Não houve nada
Na certa, realmente não haveria nada
Apenas senti
E me vi
Como mais um
Longe de nós
Somente eu
Um ser comum

Café da manhã todos os dias
Maçã, canção, poesia e amor
Verdade ou mentira, foi só uma ilusão
[ahh! certamente uma grande e bela ilusão!
Certamente uma paixão boba, sem belezura
Sem futuro
Eu aqui sem você
Sem futuro
Eu aqui sem você
Por acreditar
No que nunca deveria aceitar

Um sorriso no seu riso / seu abraço
Um colo, no seu colo / seu espaço
Sua arcada dentária

Um aço, um pedaço, um delírio, um lírio, uma murcha flor
Uma lágrima, um choro, um ainda-desamor
Favor, amor, não cruze mais meu caminho por favor

domingo, 4 de novembro de 2012

Versos ocos, palavras ocas I

Vida: verdade ou mentira - eis a questão.
Vida: eis maior mentira - uns anos de ilusão!
Vida: mentira e paixão, mente e desilusão, alma e coração.
Corpos, carne, osso, pele, arrepio.
Prazeres.
Carne, almoço, café com leite, ovos de quintal.
Mergulho.
Escuro, mar, estrelas e imensidão.

Palavras: eis grande invenção!
Grandeza, pequeneza, dinheiro, riqueza.
Pobreza, pequenez, obscuridade - a idade!
Velhice: tolice, criancice, circense, censo, relento, ao vento, bem lento.
Câmera lenta, caneta, escopeta, canela, janela - a bela!
Pássaros, fuga, eco, tiro, morte, fim.

sábado, 27 de outubro de 2012

Saudade

A saudade dói
E quando não dói, mata
Quando não mata, destrói
Quando não destrói, corrói

Corrói a alma e o coração
Por dentro, as entranhas e o pulmão
Por fora ela mora no semblante
De quem está triste e distante

Saudades...
Da amizade
Da viagem
Dos momentos
Do contentamento
De alguém
De ninguém...

A saudade é a lembrança
Daquilo que se foi
A saudade vem com a esperança
De deixar tudo pra depois
E reviver
(E viver!)
Aquilo que não se pode jamais retardar:
O tempo

De dor e solidão

te vi passar. De terras longínquas. De neverland, da terra-do-nunca. Nunca vi, só ouvi. E com tal simplicidade e emanando grandeza de dentro de si ao mesmo tempo que não ali - não coube a mim fazer essa cena valer. Simplesmente paralisado. Apedrejado. multiplicado. Dores de parto; mal-amado. Indesejado, suplicado, pedido, negado. Pedido negado. Amor não-correspondido. Final. Fim. Triste, infeliz, como me diz. O coração. Doce canção. Zoada, bateria, sem criatividade, na melodia - sim! Triste melodia, da alegoria, sem criação, sem ritmo nem acompanhamento - canção no relento! [da criancice, brincalhona, na lona do circo, do cisco do mito do início: o amor.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Amor que é paixão

Ia te escrever todos os dias. A ti dedicar amor eterno e incondicional. Mas não tenho estômago pra isso - aliás, ninguém tem! Dedicar amor a quem não quer a dor. Sentir a dor por que não quer amor - o meu amor! Amor? Amor exige reciprocidade; amor não existe. Existe sim, paixão, compaixão, afeto, dedicação... Se amor existisse eu te amaria por toda a minha vida e só a ti amaria. Pelo nada sempre esperaria. Tudo por ti faria. Sem nada em troca - sim, eu faria! Mas eu não amo. Não, pelo menos, no sentido mais utópico. Eu exijo em troca amor em igual capacidade, em igual aceitação. Eu exijo que me dês de boa vontade, na bandeja, o teu coração. Eu exijo de ti tudo o que todos exigiriam, amor! Mas um amor que é paixão.

sábado, 20 de outubro de 2012

Apenas mais uma poesia oca

Estou com saudades de nada
Estou com saudades de ninguém
Porque nunca tive nada
Muito menos alguém

Estou com sede da sequidão
Estou com fome do vento
Por que talvez tivesse sede um dia
E o vento quisesse me levar

Hoje eu sou um nada
Pó e cinza - o que, aliás, eu apenas fui
Hoje é o futuro escuro
Do passado em branco

- E amanhã?
Amanhã, apenas mais uma poesia oca...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mil vezes melhor

A verdade é sempre compensadora, mas dói quando aquele mundinho no qual firmamos os nossos pés desaparece. Passamos alguns segundos de vertigem, tentando encontrar respostas, ficamos totalmente alucinados, sem saber ao que (ou a quem) nos apegar. Apegar, sim! Essa nossa primeira reação de compensar aquele vazio é simplesmente desesperada e desesperadora. É também irracional. Mas às vezes precisamos abrir mão de certos valores, de certos amores, de certas verdades, pra provar da vida a vaidade. Vaidade dos nossos desejos, experimentar o valor de nossos anseios mais ocultos, mais sem-nexo. Às vezes é necessário desapoiar o cotovelo da base à qual ele já prende a nossa circulação sanguínea há tempos. É preciso provar que nessa vida nada é para sempre; de tempos em tempos aparecerão novas verdades absolutas – e absurdas! – que farão parecer que os nossos dias são mil vezes melhores que os anteriores. Mas, claro: dias passados não são apenas dias passados. É do passado que vem o presente. E é com o passado que se constrói o futuro.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ser alguém

O que é ser alguém para você?
Será que és alguém?
Será que serás um dia?
Neste mundo, vasto mundo
Todos somos ninguém

O que queres conquistar?
Onde queres chegar?
Queres glória, mérito, fama?
Me diga o que queres
Mas o que realmente queres
E, então, eu te direi o que serás:

- Serás um produto,
Apenas mais um fruto...

Do pó!

- Do pó vieste, ao pó voltarás!

Tudo virará pó
Pó ou cinzas
Cinzas ou ferrugem
Vermes e esquecimento

- Sim! Aqueles mesmos vermes que pisas
Devorar-te-ão quando estiveres abaixo...

No chão!

Nada vale a pena
Pois tudo custa a pena
Essa é a lógica, o sentido e a razão
O homem sempre será inútil
E, quando um dia viver como inútil
Talvez torne-se menos fútil

sábado, 13 de outubro de 2012

Que rime, por favor!

Sem eira nem beira
Na beira do precipício
Sou arisco e arrisco
Inda há risco
Só um traçado
Transforma-se numa rachadura
Por um fio
Num filme
Que rime por favor!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Inverno

No dia em que fui mais feliz eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá, não sei...
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno (...) é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
naquele dia mesmo
o Leão que sempre cavalguei?

Lá mesmo esqueci que o destino sempre me quis só
No deserto, sem saudade, sem remorso, só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes do ocidente se assombrar


(Adriana Calcanhotto, Antonio Cícero)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Detalhes inúteis

Vivo tímido e quieto. Frio por fora, mas bem aquecido por dentro. Olhos caídos e totalmente desatentos à realidade ao meu redor. Lembro-me apenas dos detalhes inúteis. Vivo a irrealidade dos sonhos utópicos aos quais se resume a minha vida. Não tenho tampa, apenas um alto-falante. À minha frente estão as fitas isolantes e os locais onde ocorreram os fatos. Não reclamo do mau cheiro vindo da cidade, ao contrário, ele me alucina. O que no me gusta é o cheiro das pessoas. Esse sim é podre - verdadeiramente fétido!
Um fato intrigante é que o nada me prende e me afasta; uma brisa suave me basta. Gosto das folhas caindo; o barulho do vento me assusta. Tenho pavor do mar, mas gosto da contemplação, da imensidão, da solidão; a Lua - esta sim me encanta! céu repleto de estrelas, sem barulhos, sem aquele turbilhão de mentiras e hipocrisias do meu povo. Gosto do abraço do beijo e do beijo do abraço - sem tirar pedaço! Me encanta a dança, as luzes, o palco, o auditório, o repertório. Gosto da chuva e do frio, arrepio! Bronzeio-me no sol e calor, o seu frescor! Odeio adulação, adoro complicar, mas de amor não quero mais falar. Por enquanto só eu, eu só.

domingo, 7 de outubro de 2012

Feliz infeliz

Saudades de quem já magoou meu coração
Vontade de quem me abandonou
Tristeza pelos olhos indiferentes,
mas cheios de ternura.

Distância infeliz que sempre traz desgraça
sobre a vida dagente.
Feliz distância que me faz perceber
o quanto sou menor,
que me faz ver que sou menos,
e que o céu é maior.

Que vontade de esquecer
teu gosto no mar, no céu e na terra.
O cheiro do gosto.
O palpar das luzes dos olhos.
Que caminho vejo (não, não vejo!)
à minha frente lindo caminho - não vejo!
Vejo espinhos - não vejo lindo caminho!

Ai que tristeza! Que nostalgia!
Ai, no peito, que agonia! -
Não, não vejo!
Não, não sinto!
Ai, eu minto. Adeus.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um sorriso nem sempre termina em alegria. Às vezes é só um prenúncio da tragédia que abaterá sobre os pobres algozes de si mesmos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pedaço de papel

Sou um pedaço de papel
E em mim escreveu-se várias declarações de amor.

Num belo dia quente, amassaram-me
E jogaram fora bem na hora da chuva.
Caí numa poça de água e lama;
me borrei todo de tinta.
De repente, um caminhão passa por cima
E tritura tudo o que havia restado.

Meu sentimento não vale nada.
Sou um pedaço de papel triturado,
Sou o amor despedaçado
E todos aqueles versos disperdiçados.

sábado, 29 de setembro de 2012

Eu também sei esperar

É preciso plantar para colher. É preciso sorrir para enxergar. Nem tudo são flores, mas podemos sorrir e ver as lindas rosas que florescem junto ao nascer do sol. As rosas nascem nuas e florescem ao sibilar da voz doce. De onde vem essa voz doce que desperta a aurora? E, afinal, onde foi que me encontrei na estrada? Estava tão perdido e atribulado. Agora estou sossegado, pois tudo se esclareceu. O dia amanheceu e vejo que a flor também cresceu. Tudo cresce, tudo muda, tudo se transforma. Agente também aprende a se conformar e a esperar. Quem sabe se o amanhã virá? Se vier, ok. Eu também sei esperar.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

(quem lê, entenda)

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida

As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernas
Pernas brancas, pretas, amarelas
Para que tanta perna, meu Deus?
Pergunta meu coração
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode

Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco

Mundo, mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução
Mundo, mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração

Eu não devia te dizer
Mas essa lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo


(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 23 de setembro de 2012

Por eu ter me encontrado

Eu já joguei tantos versos fora
E tantos já guardei na memória
Eu já perdi a inspiração
E tanto viajei na imaginação

Eu já usei gírias
E, propositalmente, erros de português
Já esqueci o que devia lembrar
E já amei quem não devia amar

Eu já fui alguém
Hoje sou ninguém
Eu já pude amar
Mas hoje só sei pensar

Eu fui e já voltei
Me afoguei
E emergi
Sumi e não me procuraram
Mas por eu ter me encontrado
Me acharam

Estou eu hoje e aqui
Pronto pra mais uma pancada
Para andar sobriamente cambaleando
Sobriamente bêbado
Bêbado de versos e palavras
De palavras e estrofes
Deste meu destino gauche
E da vida a má sorte

sábado, 22 de setembro de 2012

Isso também é ilusão

Enfim, a liberdade
Ainda que transitória
Tenho, enfim, a capacidade
De me sentir bem só

Isso é bom
Mais uma vez
Esquecer os perfumes
Abandonar as ilusões

Enfim, a liberdade
De não mais me apaixonar
Talvez nunca mais
Mas isso também é ilusão

Tenho plena liberdade, enfim
O poder de escolha
De saber o que é bom
Bom pra mim

Nunca saberei o que é bom pra mim
Mas sei que em tudo haverá proveito

Liberdade... doce liberdade
Liberdade... ilusão e vaidade
Liberdade para rimar (ou não!)
Liberdade para acreditar
Que tudo isso é poesia

Tenho, talvez, a liberdade
De, enfim, poetizar
Mas tudo isso é lorota
Pois real liberdade não há

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dia novo

Eu não dormi
Eu pranteei
Pois de amor
Eu transbordei

Eu não cabia mais ali
Tudo fora do lugar
Sangrei na noite da dor
Até poder me encontrar

Tenho novamente o poder em mãos
Só um pouco de amargura
Curou-me o sangue na manhã
Do dia novo e sem frescuras

Eu contei o tempo
O tempo a velar
Recomeço hoje, aqui
Sem hesitar

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Melhor é nem começar

Logo que me ponho a escrever
Fico a perguntar o porquê
Assim que começo a pensar
Questiono onde vou chegar
Quando ponho-me a dizer
Percebo o que devo fazer
Se não tiver do que falar
Melhor é nem começar

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Saber

Só sei que nada sei
E não saberia
Mesmo que eu soubesse

Não sei
Porque em minha mente oca não caberia
Nada sei
Porque decidi de nada saber
Nunca saberei
Porque quem se julga sábio
Esse é quem menos sabe

Sabe-se de muita coisa
Quase todos os dias
De uma coisa nova se sabe
Mas de nada se sabe

O que pra mim interessa saber
Para ti de nada vai valer
Então não valho nada
E, para mim, és um nada

Minha grande frustração
Descobri que sou igual -
Apenas um jargão -
Uma rima que não rima
Uma rima que não sabe
Quem não sabe, uma rima 
Um dia eu rimo
Inda serei o arrimo de alguém

Entre tudo que nunca saberei
É quem serei, quem sou
Nunca serei o tempo que passou
O verso que já saltou
Atarei os meus olhos
Para não saber do amor

domingo, 16 de setembro de 2012

Cravado em mim

Hoje o sol vai demorar a nascer
A vantagem pra mim
É que verei o alvorecer
Em câmera lenta

Amanheço depois de uma noite de choro
Choro depois de uma noite de chuva
Chuva que chove apenas em mim

Só eu sei o que realmente sinto
Sinto uma agonia
Agonia que não desgruda do peito
Parece que vou sair - ou até já saí! -
Da minha existência
Uma existência sem fim que dilata meus olhos
Existência sem fim a dilatar o meu coração

Tudo me lembra você
E é quase sem querer
Tudo naturalmente
Parece até sem querer
Não quero mais não te querer - e nem consigo!

Tenho a impressão de que és uma impressão
Impressão digital
Uma tatuagem de rosa com espinhos cravada em mim
É triste viver assim
Ter algo sempre encravado em mim
E agora meu coração chora - e implora! -
Implora pra voltar à sua antiga paz
Mas não posso mais voltar atrás

Eu jamais acreditei em poesia
Nem no sofrimento do poeta
Resta, pois agora, só uma coisa certa:
Se não fosse a poesia, certamente eu não amaria
E se não fosse o amor, certamente beleza alguma haveria

sábado, 15 de setembro de 2012

Ilusão

É estranho estar mergulhado em pleno voo nas extremas alturas e, de repente, perceber que nem saí do chão.

Pode ser tarde

Desate o nó
Solte a sua garganta
Desafivele o cinto
Dê um grande grito
Um brado!

Libere todas as emoções
Sinta todas as sensações
Que a vida pode te oferecer

Deixe
(Nem que por
 um segundo)
A vida pra lá
Libere o peso
Que prende os teus pés
Corre!
Vai atrás daquilo que queres
Voa!
Nas nuvens feitas de sonhos
(São os teus sonhos!)

Não deixes pra depois
Pois do amanhã não sabes
Depois
 pode ser tarde

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Isso sim é imensidão...

"Navegar é preciso, viver não é preciso."

Diálogos entre eu e eu I

"O que dizer quando não há nada pra se dizer?
O que fazer quando não se sabe o que fazer?
Quem eu devo ser para acreditar em você?"

- O quê?
- Nada.
- Eu não disse nada!

"Sou um tudo e nada ao mesmo tempo
Sou tão pouco
Mas também sei ser o suficiente depois
Tão sem sal, nem açúcar
Sou insosso, deselegante, desinteligente
Grosso, mas simpático ao mesmo tempo"

- Mas... e daí?!
Que se danem todas essas descrições tolas!

"Ninguém vê, nem ouve, nem acredita
Cada um enxerga o que quer enxergar"

- Será que não vês?
- Sei que vês - e muito bem! - mas jamais vais acreditar.

- Creio infinitamente nesse zelo...
Esse teu zelo perfeccionista - quase obsessivo!
Observe:
Me observe

- Ah, já não vejo nada!
- Todos esses diálogos sem sentido não servem para nada!

Folha em branco

Eu decidi guardar o antigo livro e começar a escrever numa folha em branco que estava à parte. Começar - não recomeçar! Chega desses papéis jogados no lixo. Infinidade de rascunhos. Arriscar-me-ei num texto novo, mas dessa vez, completo. E se ousar mais, até um livro, porque o velho tinha muitas traças, muitas repetições. Preciso de desapego, pois aprendi que tudo tem uma continuidade. O mundo não gira em torno de mim, mas em torno de si mesmo (sim, ele é egoísta também!) e a vida continua, sempre continua, sempre contínua...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Saudade vazia

Aquele refrão soava estranho. Palavras vadias, verdades vazias. Tudo fazia sentido antes, mas a rima perdeu o sentido por culpa de um instante. Queria ter coragem de pedir ainda uma vez mais:

"Deixe-me ser essa última ilusão. Mas dessa vez mais forte, mais convicta, mais madura e menos repetitiva. Deixe-me folgar com teus beijos doces e esquecer tudo quanto empatou meu caminho antes. Faça-me deixar de ser um viandante pelo menos uma vez ao dia. Faça-me ser sua saudade vazia."

Mas tudo que eu me tornei foram esses refrões que já perderam sua vivacidade. Eu perdi a vivacidade. Não vou mais tentar romper a cápsula e nem insistir na cláusula. Também não serei ilusão, não serei mais forte, nem convicto, nem maduro e tampouco menos repetitivo. Meu caminho continuará cheio de cascalho. Serei eternamente um viandante a te observar de longe, com saudade, com remorso, com uma esperança desmedida e iludida. Serei saudoso, saudoso da paixão que ficou. Não serei tua saudade vazia, mas estarei sempre à espera do teu amor.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Desumano

Meu sentimento não vale nada. Eu sou um vale de tristezas condenado a carregar para sempre esses sonhos jogados na lata de lixo. Eu sou a própria lixeira e o único sentimento que me resta é a pena - esta que sempre tive aqui, esta que a humanidade finge desprezar e aponta como mais miserável dos sentimentos.
Eu sou um mar - um mar, não o mar. Eu tenho medo do mar, tenho medo de amar. Sou as cinzas que sobraram do churrasco do fim de semana. Eu sou lixo humano. Desumano! Deveria ter sido apenas uma massa morta, fétida, podre, pobre e abortada. Sou uma presença forjada nessa matéria imaterial e irracional. Sou esse verso triste e mórbido. Tenho coração insólidoSou pó. Vim do pó. Voltarei para o pó.
Sou estranho e estranho. Sou estranho porque eu sou eu -  esse ser anormal, esquisito, inadaptável ao meio social. Estranho porque estranho o mundo à minha volta que corrói minhas entranhas com suas rígidas e implacáveis voltas. Sou entranha doída e machucada por um tiro de revólver. Uma faca revolveu meu peito e depois atravessou minha barriga. Sou volúvel, solúvel e indissolúvel. Ao meu lado mora a solidão, mas junto desses versos obscuros inda bate um coração.
Eu sou um Titanic que afundou cem anos depois. Como no verdadeiro, quase todos morreram e ficou tudo naufragado. Eu naufraguei na poesia, me tornei falador da dor; filósofo das amarguras. No meio do Atlântico, cheio de pavor. Frio congelante, escuridão agonizante. Gritos desesperados. Mas lá vem um bote! Não morrerei aqui no meio do mar. Dele jamais serei parte. E, saibam todos: não acredito em sorte.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Com amor

Todos esses versos
Foram pra você
Foi de pouco a pouco
E quase sem querer

Tanta rima repetida
Tanta palavra, tanta estrofe
Já está tudo tão chato
Então fiz essa, antes que mofe

Todo esse jardim fiz pra você
Aceite só uma flor
(Sem modéstia, por favor!)
Por realmente merecer

Eu fugi da minha ilusão
E fiquei pior
Por isso vim aqui
Pra me fazer melhor

Não tenho coragem de dizer
Nem jeito pra falar
Também não quero escrever
Vergonha tenho de te contar

Eu hesito
Temo que é chegada a hora
Mas eu me apaixonei
Pela luz da aurora

Tudo o que sinto
Não ignore, por favor
Sei que é bobagem
Mas eu te amo com amor

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A ti

Eu te odeio
Porque te amo
E não sei não te amar

Me odeio
Porque me encanto
E sem ti não sei me achar

Espero
Pois desespero
Do coração a sangrar

Te choro
Pois os teus olhos
Têm os meus a brilhar

Eu rimo
Porque arrimo
E deliro no versar

Escrevo porque a ti
Que és minha vida
Só sei amar

Tenho versos de saudade
E vontade
De te encontrar

Tenho a rima repetida
Desse pobre coração
Que só quer te amar

domingo, 9 de setembro de 2012

Não suporto

Eu não suporto perder um sorriso
Mesmo que não sorria pra mim
Eu não suporto perder um abraço
Mesmo que não me abrace

Eu não suporto sentir teu perfume
Porque está sempre longe daqui
Eu não suporto sentir o teu cheiro
Porque, mesmo estando longe,
Não desgruda da minha pele

Eu não suporto mais viver assim
Porque já nem sei de mim!

Eu não suporto a sua voz
Porque mi corazón fica veloz
Eu não suporto aquele brilho em seu olhar
Porque, mesmo sem querer,
Põe os meus a brilhar

Eu não suporto a sua ausência
Porque termino a poetizar
Eu não suporto a minha própria demência:
A de poeta me achar

sábado, 8 de setembro de 2012

Vi e senti

Eu vi você no mar
Enquanto caminhava distraído, sem pensar
Vi teu brilho ao Sol
Enquanto tocava em Si bemol
Eu vi você partir
E não consegui mais dormir
                  
Amanheci numa manhã de luar
Enlouqueci num crepúsculo
No qual a neblina se fez dispersar
Todos os meus sonhos queimaram-se na manhã
Quando não havia mais amanhã

Tudo que ficou no passado foi pesado
E o que passou foi repensado
O que eu vi ficou ali
Mas tudo o que senti resolveu me seguir
As vozes (tanto as que falavam, como as mudas)
Sumiram
Você sumiu

Já não sei mais o que será amanhã

Já nem tenho mais o que fazer
Apenas ficar observando o horizonte
Na esperança de ver você nascer

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ilusão bem amada

Este verso é pra você
Que é o primeiro pensamento do dia
E o último também
Pra você que chegou de repente
E fez ficar tudo bem
Pra você que é tudo e nada
Que é só uma ilusão
Ilusão bem amada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Momento de revolta (ou Meia volta)

Me faço pensar que esses amores de nada valem. Pois, pra que serve tanta dor, tanto penar, tanto sofrer, se no fim sobra apenas o vazio daquilo que nunca foi? Se amar só serve para tecer esses versos inúteis, não quero mais amor – aliás, não quero mais amar. Queira-o quem quiser, mas deste tal de amor nem mais quero ouvir falar. E não precisa me dizer que isso é apenas um momento de revolta. Olho para trás, me arrependo de todas essas palavras e dou meia volta.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ao amor que morreu

Uma singela homenagem ao amor que morreu
À vida que se escafedeu
Isto é, o amor
O amor é vida
Mas a vida, não necessariamente, amor

O amor platônico morreu
E nem Platão sabe o que aconteceu

É triste
Muito triste mesmo
Quando morre o amor
Quando você sabe
Mesmo negando de todas formas possíveis
Que aquele será seu último suspiro
Um grito verdadeiramente desesperado

O amor é uma ilusão
Amar é uma fantasia
O amor é uma utopia
Utopia bem viva que vive
E mata os corações -
Estes pobres que queimam, ardem
Esperam, doem, sangram 
E, enfim, cansam e secam;
Secam quando morre
O tal famoso brilho do encontro de olhares

Lá se vai mais uma pobre vida desiludida
A trilhar um novo caminho
Sem nem saber por onde começar
Querendo apenas saber o que é amar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nostalgia do amor

Desde que você partiu, sinto falta do teu cheiro, do teu tom, da tua cor, do teu olhar que queimava como o sol e dispersava as nuvens negras que me perseguiam durante o dia. Desde que você partiu, meu coração se partiu e sangrou. E a minha vida só não ruiu porque inda tenho esperança de ver você voltar. Já tenho tantos versos versados, tantos sentimentos mal-amados. Agora, pois, minha flor, olha só um pouco pra trás, volta pra cá pra fora e vem me amar.

domingo, 2 de setembro de 2012

Tudo num instante!

Tenho pressa com calma
Agonia com demora
Tenho calma com pressa
E vontade de ir embora

Sou tristeza no verão

E alegria no inverno
Árvore seca na primavera
E floresço no outono

Sou um cão sem dono

Um pássaro mal-amado
Só canto a alegria
Porque me foi designado

Sou tudo e nada

Pouco e suficiente
Sou dois em um
Três em dez
Não valho nem um conto de réis

Sou a rua e a estrada

Ladrilho e calçada
Sei também ser
Pranto e gargalhada

Sou clichê

Sou apenas eu
Sou eu, tu e vós
Sou a vítima cruel
E também o seu algoz

Não, eu não sou bipolar!

Apenas inconstante...
Te amo e não mais amo
Tudo num instante!

Sou momento e a vida inteira

Às vezes sou poesia
Mas às vezes só falo bobeira

Não posso ser tudo que eu quiser

Nem o que você achar
Sou apenas quem sou
Sem por e nem tirar

Sou calmaria e tempestade

Desejo e vontade
Tenho calor, tenho maldade
Sou sagaz e intimidade

Eu não sou uma rima
E nem tenho alguém
Sou um verso mal-amado
Que quer amor também

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Aqui"

Estou boiando sobre a superfície do oceano. Vejo o céu negro e estrelado; nada mais além da imensidão no horizonte. Aqui não existe medo, aqui penso o que quero e faço também tudo quanto desejo e essa é a única verdade absoluta. As pessoas são da forma que imagino; tudo sai como espero. Aqui a poesia é realmente oca e talvez nem tão sofrida. Aqui a verdade é alucinada e alucinante. Esse "aqui" não existe; é só um vácuo, um espaço morto, um verso oco. É apenas mais um fruto da imaginação, assim como eu também o sou.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Versos de um desiludido

Que se dane o amor
E todas as suas formas
Pra que ele existe
Se só traz a dor
E agente não se conforma

Que passe longe a paixão
Essa que não tem norma
Por que ela existe
Se traz pra vida a cor
E depois leva tudo embora

Passem bem longe de mim
O gostar e o querer
O gostar só faz doer
E querer não é poder

Mas é inevitável, né?
Não adianta!
Nem tenho que fazer
Só esperar para sofrer

domingo, 26 de agosto de 2012

Mentira prolongada

Eu amei e desamei
Senti e (des)senti
Odiei e perdoei
Vi o que não vivi
E também vivi o que não vi
Caminhei onde não fui
Trilhei o que não fui capaz de construir

Caminhando a esmo no deserto
Vi vários oásis
Mas estes não passavam de miragens

Será que ainda é?
Será que ainda será?
Será que já foi?
Será que foi tudo verdade
Ou foi só uma mentira prolongada?

Adeus adiado

De um adeus tão aguardado
A um adeus adiado
De um lindo dia ensolarado
A um dia nublado

De um tudo, tão pouco, quase nada
Ao real vazio
De um eu e você
A um eu-continuo-sozinho.

De um sonho sonhado e sendo construído
À escada que me foi arrancada
E me deixaram preso no telhado
De ilha vazia a deserto frustrante

Assim me tornei um dia sem sol
Noite sem luar
Poesia sem melodia
Acorde sem harmonia

Abandonado à sorte de qualquer um
Preso à liberdade da solteirice
Acorrentado pelo eterno adiamento do que nunca foi
Iludido pelo sim do sorriso
E, ao mesmo tempo
Espancado pelo não da realidade

Assim acaba esse amor
Aqui acaba e eu já vou

sábado, 25 de agosto de 2012

Em vão?

Tens o poder de me transformar em lágrima salgada e sorriso doce; me encantas, desencantas e espantas; me alucinas e me assassinas; me enches com esse sorriso e olhar meigo. Então, me pergunto: por que me apaixono tanto em vão?

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Madrugada dos sonhos

Eu despertei
Na madrugada dos sonhos eu despertei
Na fábrica de ideias eu acordei


Medo, angústia, solidão...
Hipnose!
Será que errei na dose?!

Pensei em você
Lembrei!
Comecei a lembrar de coisas passadas
Para entender o porquê
O porquê de tanto te querer
Apesar de quase não sentir mais


O que um dia fora um sonho
Hoje se torna um pesadelo
Mas eu não quero acordar
E insisto em ficar


Mágoas, ressentimentos e dor...
Um muro!
Um muro que separa vidas

Desejos!
A madrugada é a mais fiel
E principal Testemunha da Noite

A noite é uma loucura
Não só a que é vista a olhos nus
Mas a noite dentro de nós
Tão tenebrosa como a chuva que chove em mim
É escura e gelada
A madrugada
É hora de me perder
Para que, quem sabe um dia
Eu possa achar você

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Meu amor,

peço que não me dês teu coração - me dá apenas a tua mão, para que possamos partir num voo feito de emoção. Meu amor, preste atenção: tenho medo de rasgar teu coração, então vamos caminhando devagarzinho, lado a lado; podemos revezar as bagagens e admirar juntos as paisagens. Sua presença será sempre a minha confiança doce, suficiente e agradável.
Meu amor, não se prenda a essas promessas vazias da paixão, pois ela fala sem pensar. Não fales sem pensar e nem me peças também o que não posso te dar. Vou tentar, vou pensar, vou me esforçar, vou esticar. Esticar ao máximo esse nosso tempo juntos aqui debaixo dessa árvore. Quero ficar com você até a tarde tardar. Quero estar com você pra meu coração se aquietar. Quero estar com você porque tudo fica bem ao teu lado e, enquanto der, deixa tudo assim como está. Tomemos sereno e embriaguemo-nos de amor até o sol raiar.

domingo, 19 de agosto de 2012

Selá

E a poesia morreu
A melodia se escafedeu
Os sonhos saíram pulando pela janela
Uns vieram a falecer na queda
Já os outros, nos quatro cantos do mundo
Estão passando seus últimos segundos
Talvez um dia voltem...

Meu mundo é tão pequenino
O meu amor veio tão repentino
Mas se foi
E agora eu estou repetindo
Sei que não há nada de novo
Mas queria recomeçar tudo de novo
Talvez a Lua me conte de algum fato melhor
Talvez me traga notícias em Mi menor

Meu destino deve mesmo ser
 gauche na vida
Como me disse, quando nasci
Um anjo torto desses que vivem na sombra
(Quem lê, entenda)

Ai de mim se não fosse poeta
Mas aí, já não seria eu
E sim, uma rima incerta
Sou uma rima incerta
Por isso não sou poeta
Meu mundo é contraditório
E eu já cansei de todo esse repertório

Do amor à dor
Do sorriso ao choro
Da alegria à tristeza
Da riqueza à pobreza

Do risco à segurança
Do amanhã à lembrança
Do agora ao nestante
Tudo num instante!

Não consigo mais poetizar
Pois a poesia fugiu de mim
O amor saltou daqui
E talvez nunca mais volte assim

Dizem que quando não se sabe pra onde quer ir
Qualquer caminho serve
Então qualquer caminho vou seguir
E chegarei, assim, a lugar nenhum

Tudo o que busco na poesia
Inda hei de achar
Mas no dia em que ela vier a morrer
Não hão de me encontrar
Morreu todo o meu ser
Morreu a rima
Selá.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Versinho

Um versinho pra você
Nele está contido a vontade de te ver
Meu coração pulsa agora no compasso de uma só canção
Canção que se chama paixão

Apenas tudo

Sabes como me prender e me cativar
Me deixas preso
E eu não sei onde chegar

És tão importante pra mim!
Nada demais assim...
Apenas tudo.