domingo, 30 de junho de 2013

versinhos profanos

Aquele vinho amargo
Que tomei amargo
Foi mais doce
Q'ocê

Aquele vinho doce
Que comprei na páscoa
Foi mais pascoal
Que te ver

O pão que ceei
De amargura das agruras
Foi amassado
Pelo diabo
De não te ter

Parti o pão
Ceei a ceia
Da sua morte
Do seu sangue
Bebi.

O pão que o diabo amassou
Foi pro raio que o parta
Você
Foi

Foi você
 Que foi

Quem foi?

Foi você
 Que foi?

Foi pra nunca mais
Foi pro raio que o parta

segunda-feira, 17 de junho de 2013

14/10/2012

E, de repente,
uma vontade de saber de tudo um pouco
De um pouco tudo
A vontade que me dá
A vontade que me tem
É de engolir o mundo  gulosamente!
Sem mastigar! Tudo de uma vez!

E, de repente,
estou soturno, noturno, diurno,
vespertino, vesperal
Estou com pressa, estou mentindo
Eu perco o lápis e a inspiração
Minha cabeça pira e a mente gira;
de preguiça, de raiva e de ódio.

Quem foi que disse que o poeta gosta de estudar?
Quem foi que prometeu a matemática decifrar?

Eu escrevo

Tu escreves
Ele não escreve
Nós escrevemos
Vós escrevais
E eles mentem.

Como dizia (diz!) o sábio:

"Tudo é canseira!"

Saber demais é como comer demais

Mentira é que nunca é demais
Vá dormir, arrumar suas coisas
E deixe tudo pra trás

quarta-feira, 12 de junho de 2013

"Dia dos namorados"

A vida é muito mais que um "Dia dos namorados"
A vida é como um dia, mas um dia não pode resumir uma vida inteira

A vida é muito mais que uma data
Muito mais do que beijos, paixões e ilusões
A vida não pode se definir e morrer
Num gôzo de devaneios sem fim
Pois está lá fora e cá dentro também
Não se limita nas cercas e nem tapume tem

A vida é muito mais que uma manhã, tarde e noite
Não se estende apenas a esse inverno rigoroso
Se estende em cada estação
Trazendo renovo e fazendo brotar 
aquele lírio no seu tempo oportuno

A vida é bem mais do que essas palavras podem expressar
E não termina onde parece acabar
É bem mais do que rimas, embora mera fantasia
Não pode morrer num transitório amor
Mas morre a jorrar um coração de dor

A vida é bem mais do que bens
Bem mais do que um cartão
Mais do que flores e 'poeminhas bonitinhos'
A vida está dentro de cada entrelinha
De cada aroma, de cada sintoma
De paixão

A vida é bem mais do que horas, minutos e segundos
Mais do que 'esse deus chamado relógio'
Mais do que esse deus chamado dinheiro
Mais do que esse deus chamado eu.

A vida não se resume a uma data efêmera
A um dia de consumismo
A vida não se resume a dizer um 'eu te amo'
hoje, só porque é dia dos namorados

A vida não se resume a um
Se divide por dois
Subtrai todos esses feriados inúteis
E se multiplica por uma vida inteira

sábado, 8 de junho de 2013

Daquela sua última carta fúnebre

Ah, amor!

Eu já borrei tanto essa carta, já sujei tanto esse papel, já fiz papel de besta e já não tenho realmente sobre o que escrever. Já perdi o senso crítico e fugi do senso comum - e tudo isso por um amor que não me pertencia. Eu busquei mil e uma formas de me expressar, de aclarar sentimentos ora ocultos, que ora eu mesmo desconhecia. Me humilhei, me perdi... mas em nome do que? Sim! todos esperamos sempre algo em troca. Eu esperava registrar esse texto à mão e não dessa forma, nem onde eu o estou fazendo agora.

Ah, amor!
Queria te encontrar apenas mais uma vez, só para mostrar o cemitério dos meus sonhos. Queria conseguir chorar, mas a vida enrijeceu os músculos da minha face de tal forma que lágrimas nem mais se forma. Sinto-me preso num formol, apenas conservado até a hora de morrer, mas essa carta já é tão ilegítima, como quando eu perdi você. Perdi seus olhos, sua unha, sua cor, a sua mãe, o seu pai, o seu irmão e todos os outros inconvenientes... Talvez um dia ainda, quem sabe, eu vá rir da sua cara jogada na lama, sem ninguém, mas eu não sou assim. Eu não sou seu amor, mas não sei ser assim.

Ah, meu amor!
A poça que eu me tornei - lama da mais baixa qualidade - está se secando com o sol - vou me tornar em barro - um vaso de barro a ser atirado ao léu novamente por suas mãos. Só porque não sirvo para ornamentar seu coração.
Amor, você poderia ter me doado para a reciclagem, mas preferiu me ver no lixão, sem chão, sem emoção. Você preferiu o nada e ainda me veio com lições de moral. Sua careta afaga os outros e me mantem bem longe de ti.

Meu amor,

se chegares a ler essa carta,
lembre-se que eu não sou o seu amor.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Inundando minha vida inteira...

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever
No entanto ele está cá dentro
Inquieto, vivo
Ele está cá dentro
E não quer sair
Mas a poesia deste momento
Inunda minha vida inteira


(Carlos Drummond de Andrade)