quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Desumano

Meu sentimento não vale nada. Eu sou um vale de tristezas condenado a carregar para sempre esses sonhos jogados na lata de lixo. Eu sou a própria lixeira e o único sentimento que me resta é a pena - esta que sempre tive aqui, esta que a humanidade finge desprezar e aponta como mais miserável dos sentimentos.
Eu sou um mar - um mar, não o mar. Eu tenho medo do mar, tenho medo de amar. Sou as cinzas que sobraram do churrasco do fim de semana. Eu sou lixo humano. Desumano! Deveria ter sido apenas uma massa morta, fétida, podre, pobre e abortada. Sou uma presença forjada nessa matéria imaterial e irracional. Sou esse verso triste e mórbido. Tenho coração insólidoSou pó. Vim do pó. Voltarei para o pó.
Sou estranho e estranho. Sou estranho porque eu sou eu -  esse ser anormal, esquisito, inadaptável ao meio social. Estranho porque estranho o mundo à minha volta que corrói minhas entranhas com suas rígidas e implacáveis voltas. Sou entranha doída e machucada por um tiro de revólver. Uma faca revolveu meu peito e depois atravessou minha barriga. Sou volúvel, solúvel e indissolúvel. Ao meu lado mora a solidão, mas junto desses versos obscuros inda bate um coração.
Eu sou um Titanic que afundou cem anos depois. Como no verdadeiro, quase todos morreram e ficou tudo naufragado. Eu naufraguei na poesia, me tornei falador da dor; filósofo das amarguras. No meio do Atlântico, cheio de pavor. Frio congelante, escuridão agonizante. Gritos desesperados. Mas lá vem um bote! Não morrerei aqui no meio do mar. Dele jamais serei parte. E, saibam todos: não acredito em sorte.

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