sábado, 31 de agosto de 2013

Épico

De sertões que eu não conheço
De passados que já me esqueço
De luares que eu não vi
E de lágrimas que já sofri

De amores que já passaram
De presentes que não ficaram
De futuros que inda estão por vir – e daqueles que não virão –
Os vivos verão!

Me falam de mágoas que não me magoaram
De alegrias que nem meus pais presenciaram
Não sinto a nostalgia de um passado que não vivi;
Só posso sorrir com o presente que está por vir

Não vi as bandeiradas
Não sou das vaquejadas
Meus pés não pisaram o pantanal
E não, eu não moro na metrópole boçal

Sou de terras daqui
Mas não conheço o sertão
Nunca vi e nem verei as minas
Mas sou sim das terras gerais!

Terra feita de paralelepípedo, depois de asfalto
Nunca corri no mato, nem comi carne de gato
Não habito no mato, na mata; na densa floresta
Mas também não sou preguiçoso! Não vivo com os pés fora da rede!
Eu também lanço as minhas redes!

E não, não sou pescador!
Não sou industriário
Tampouco agiota ou retardatário
Não sou moço bonito, nem caboclo ou burguês
Sou filho de minha mãe! – e não sou chinês.

Devoto de santo nenhum eu sou
Alienado, cá na frente já estou
Entendendo o que custam a entender
Mas me retardando do que (devo?) eu saber

Fiz essa poesia só pra declarar o gosto de estar,
Estar onde eu estou
E a vontade de ir
Pra onde o vento já me levou

E não existem fronteiras
Quando se é baiano
Com o coração cigano
Sou brasileirano
E falo brasilês!

Mas saibam todos: vivo hoje, aqui
E não preciso ser ninguém – tampouco um número!
Não careço ser identificado
Ou nacionalizado
Sou um iludido; coração perdido
Sou louco varrido; coração partido

Não gosto de carnaval
E só um pouco de futebol
Música popular não existe
Assim como Fá bemol

Árvores não ficam tristes
Só vocês que me leem
E o amanhã sim existe
Mas só pra aqueles que veem

É bom fingir que nada sei
Mas se de tudo sei
Ou um pouco captei
Do mundo toda essa loucura herdei

Sócrates Hipócrates!
Mundi mendacem!
Oh, vida sem sorte!
E quem disse q’isso existe?
Oras, qual!
Usar essa linguagem que nunca me pertenceu
Muito me faz mal

Por isso concluo:
Sou um ser normal
Mas não sou animal
Nem racional nem irracional
Sou quem sou
Do jeito que me predestinou
Deus
E queira ou não queira você
Vamos um dia todos morrer.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

06/08/2013

Eugoísmo

Sinto um vazio interior tão grande. Uma falta de importância. Mas não sinto falta de alguém importante, pois ninguém me é importante. Me amo de uma forma doentia, de uma forma que me mata e me corrói todos os dias por dentro. Sabe, eu mesmo, por inúmeras vezes, pouco me importo se meu eu acabar, afinal, são tantos eu's que se misturam entre si...
Você não sabe o quão bom é estar sozinho, longe de toda turbulência. 

– Preciso ouvir música,
             preciso me soltar, desabafar,
                        me desprender de mim mesmo,
                                                           de alguns eu's.

Coincidentemente é aula de texto agora e eu nem me dei conta disso..

Escrever liberta
Escrever refaz
Escrever completa
Escrever me distrai... aliás não:
Me põe mais a par de meus problemas!

sábado, 24 de agosto de 2013

Ai.

Ai,
Chega de depressão!
Vamos dormir numa caixa de pizza
Rolar numa caixa de sapatos
Mergulhar numa piscina de legumes estragados

Ai,
Chega de desilusão!
Vamos aprender a escrever errado
Desenhar um mapa ao contrário
Chorar pelo avesso

Ai,
Chega de tanto ‘ão’,
De ouvir só não,
De ouvir música sozinhos,
Vamos redesenhar um caminho!

Ai!
Não dói mais!
Escrever distrai.
Bem faz é respirar
E saber que estou vivo.


Vamos fazer uma festinha,
Celebrar a vida
Que se resume a esse momento
Aqui e agora

Ai! Vou escrever!
Até não mais doer!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Súbita explosão

Uma explosão de ideias
Um súbito relance
Aproveito a inspiração
Antes que não mais me alcance

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Um e outros rocks

Você me fez gostar daquela música, não sei ao certo o porquê. Talvez, porque assim como nós, a música pareça dessincronizada e desafinada. Você é tão leve, tão simples, tão perfeita. Seus olhos carregam um pouco de tristeza. Você é um rock, uma pedra, um túmulo provocante e com a tampa posta fora de seu lugar. Um tumulto, só que sem multidão e em meio à chuva.

                          –  Qual o seu segredo?
                            Qual o nosso mistério?

                                                         Você me faz sentir num filme sem sentido algum. Será que toda vez vai ser assim?... assim como aquelas músicas que não tem um final  motivo que me faz odiá-las!  músicas que diminuem o volume até a mudez, mas talvez isso seja menos dolorido do que um corte abrupto.
Inda nem inventei um nome pra você, inda nem sei se você é sol, calor, dia ou noite. Mas creio que seja chuva mesmo; a tempestade, o vento impetuoso em pleno mar aberto. Você é a tristeza  mas nisto consiste sua beleza. Nem tudo segue a ordem natural das coisas...


***

             Imagino que este seja um texto antigo, de quando eu ainda era jovem e carregava muitas paixões e muitas ilusões e muitas desilusões e muitas decepções também. De quando idealizava um amor perfeito, um alguém perfeito. Hoje vejo apenas a guitarra velha, jogada num canto qualquer do teu quarto, um túmulo aberto e uma pedra posta com um recado amarrado. Um anexo de e-mail. Palavras sem nexo. Nunca tive coragem de lê-lo, ainda um dia, quem sabe... mas já é deveras tarde esta primavera, estar aqui sozinho, nesse dia bonito e ensolarado pode não ser mais tão entediante, até porque, lembro-me bem daquela frase jovial, daqueles tempos pueris  " Nem tudo segue a ordem natural das coisas".
Hoje são outros rocks, outras chuvas inundando a minha vida inteira e vendo valer o que não valeu não valer à pena. Vendo o tanto que valho. Vendo o tanto o tenho. Eu vendo o tanto que tenho por paz e sossego, sem mais segredos, sem mais mistérios me agrego ao filme triste, mas belo em pleno mar aberto naquelas ondas em que vagueei tudo para trás. Nado para trás e abro aquele misterioso bilhete, que me revela como uma facada no peito o quanto sou comum, um qualquer, mais um passageiro que passou percebidamente desapercebido pelo bonde da vida.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Frágil

Porra! Você não cansa de dizer sempre as mesmas coisas, não? Será que você não percebe o quanto sua vida é entediante e chata? Você não se cansa de ouvir os mesmos besteróis sempre, não? De ouvir sempre as mesmas músicas e ver cada um em seu mundinho perfeito, protegido por cristais de gelo que  acredita-se  não se podem quebrar. Será que é inocente a sua perguntação tola de cada dia? E também as suas respostas repetitivas? Será que não percebe que esse seu casulo de solidão não vai te levar a lugar nenhum? Mas será possível que tu num vê que essa badalação toda uma hora acaba? Por que tu aguenta todo esse sofrimento em silêncio? É masoquismo isso? O que ainda te mantém de pé? O que te faz viver? Cadê teu combustível, tua alegria diária de cada dia? Cadê aquelas pessoas que você amava, às quais jurou amor eterno? Pois bem, vejo que aprendeu que nada é pra sempre e que promessas se quebram como vasos, que cada vida, cada casulo se transforma e parte para queda livre ou pro céu azul. Por que te é tão difícil de entender ou de questionar ou de responder? Pra que quatro pq's? Mas será que você ainda não viu que a desgraça faz parte da vida e que o tempo corre atropelando a todos pelo caminho? Por que você não morre? Por que não faz algo de bom? Por que não se mata? Por que se mostra tão distante, tão ruim? Pra que toda essa loucura, toda essa euforia? Por que não se mata de amor? Por que não quebrou aquela garrafa de cerveja na cabeça daquele desgraçado? Por que matou seu filho? Por que fingiu ser quem não era só para agradar os outros? Por que fugiu daquela situação... aliás e por que não fugir, então? Por que escreves? Por que tu lês? Tu lês? Ei! Você me lê?! Será mesmo? Por que toda essa paranóia? Por que é tão fácil te manipular? Pra que essa futilidade de gramática, matemática? Quantas gramas tem sua alma? Quanto vale sua vida? E a faculdade? E as namoradas? E o raio que o parta? E o grito, você ouviu? Eu não ouvi. Ainda não ouvi aquela música. Eu ouço vozes à noite. Tive um pesadelo. Eu não sei ler. Sou deficiente visual. Matou os ratos do banheiro? Não tem mais papel! Faltou tinta no tinteiro! E o Limoeiro? Eu li "Moeiro"? Quem é Moeiro? Aliás, quem é você? O que você está tentando dizer? Garçom, mais um pfvr! Olha o pássaro na janela! Olha a Lua! Olha a rua! Paciência... Vamos! vamos! Vamos fumar mais um? Vamos tomar um café? Ninguém te perguntou nada! Ninguém me interessa! E Tereza? Cadê aquela máquina de costura? Cadê Lina? Cadê aquela velha? Dei-lhe uns bofetões pra aprender a ficar quieto! Ah! aquele menino travesso! Pirralho! Peste! Foi pro travesseiro. Consultou o travesseiro. Consultou as cartas. Virou ninfomaníaco. Pirei. Sou piromaníaco. Sou maníaco. O maníaco do parque foi preso! Amoníaco! Demoníaco! Foi preso furtando uma loja. Faltou-lhe forças para segurá-la. Perdeu a mão. Perdeu o braço sumiu a minha chave de casa! Caiu a asa do avião! Sumiu a casca que lhe protegia... E aquela agonia? E aquela inspiração toda? Foi tudo fantasia. Acordei, só mais um dia.

domingo, 4 de agosto de 2013

Eu, indigente

Eu sou aquele rato anormal
Que você vê (não vê)
todos os dias

Eu sou o indivíduo
Que não anda pelas ruas 

Indigente
Demente

–  Sou eu.
Sem mais porquê.

Eu que falo o que falo
E você pouco quer saber

Eu, o artista do semáforo
O mendigo, o louco (!)
De tudo sei um pouco!  
Logo não sei nada.
Nada, uma granada.
Ser você não está com nada!

Sou apenas um número.
Nu.
Sou apenas mais um
Diante de ti, sou ser nenhum 
(E não sou animal!) –  mas sou ser irracional.
Sou do bem, sou do mal

 Eu sei que não sou ninguém!

Padeço de felicidade sem igual
Ah! Pura ironia, pura tristeza
Pura hipocrisia, pura falsidade.

– E esse ar que vem da cidade?
Nos contamina, mais nóiz respira.

Sou do conta, da companhia, da congestão
Flanelinha de estacionamento, sou a má digestão
Sou sorvete, sou pastel
E meu triste eu, morreu no beleléu.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Esquizofrenicamente

Sinto-me louco, porém mais vivo do que nunca. Talvez haja alguma relação entre a vida, a morte e a loucura. Talvez viver seja estar em plena consciência de que se pode enlouquecer, talvez enlouquecer seja ter a plena consciência do que não se pode viver ou talvez ainda morrer seja não poder viver, pois não se pode enlouquecer. Quero enlouquecer! Quero enlouquecer mais a cada segundo. Quero ouvir mais passos, mais fortes a cada segundo, quero andar esquizofrenicamente pelas ruas, sem destino, sem saber onde chegar. Quero me encontrar.