segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Limitações

Hoje voltei meus olhos tristes para o céu, esse céu que todos os dias me encanta, me enevoa, me encobre. Os seus olhos passam por mim de várias direções. Perpassam o céu e o sol e um mundo que não consigo enxergar. É limitação não poder enxergar. Ser um ser qualquer nesse mundo onde mesmo a areia, a poeira do mar, consegue ser maior do quê. E quando me dissocio desse céu, mergulho num abismo sem fim, em profundezas que me proíbem de olhar para cima. De lá do baixo, sublime esplendor no abismo, vejo vozes rindo, ouço olhos espiando. De mesma origem, o alto, sublime monte olha escancaradamente, com olhos indiferentes de quem não quer parecer ser cruel. Devo tomar minha existência, para fazer a essência do novo que se esvai mesmo sem tons. Quando alguém se perde em suas palavras sem sentido, se torna Marte. Quando alguém se vai sem sentido, perde-se-lhe a parte. Quando algo se vai, se toma parte. Se toma à parte - e se parte - se tenta esquadrinhar e adivinhar, voltando ao mesmo céu de estrelas, ou mesmo sem estrelas, com respostas, mas ao mesmo sem respostas. Cem respostas, era só uma parte de tudo o que eu queria encontrar.

sábado, 22 de abril de 2017

Estrada

Visualizei as palavras que não escrevi
Tentando escrever por estradas em que não percorri
Fui deixado só
Na estrada
Não há mais a carruagem com o Leão
Pois sou eu
Só eu

Tenho de falar do que sinto...
como falar do que é esquisito
Ou do que é normal
Ou do que não é falado,
do que é deixado,
do não desejado,
do espreitado...

Com poucas palavras
Pouco repertório
Faço dos verbos
Um escritório
Para viver
Para ter
Para ser

Inúmeras coisas que nem vi
Estradas que não vivi
Porque estou só
Estranho
Anormal
Louco
Indesejado
Desertado
Nessa estrada para a morte.

sábado, 15 de abril de 2017

Pereço

A inspiração em tempo de vir
Ela me esquece
Desaparece
Como a morte naquele mar negro
Imensidão de quem tem loucura
Ou dor
No coração
Sem sinal
Breve
De recuperação

Que saudades disso
Que já não vinha há algum tempo
Acompanhada de canção
Tão pura canção
Tão mística razão
Mais uma vez
Afeita às mesmas rimas tolas
O costume dos versos bobos
Costurados por temas bobos
Cozinhados ao parto do bolo

Musica que acompanha a vida
Em cada palavra perdida; pão
É a inspiração
De ser
Ou de se ter
Ou somente almejar
Nada do que se quer
Tudo o que não se pode ter
Loucamente
Merecer
E perecer

Nessa loucura
Mais uma vez
Eu pareço um fim
Que amanheço em mim
Eu padeço em mim
Na noite, enfim
Eu pereço sem fim

domingo, 11 de setembro de 2016

Batidas de Ukulele

Suaves batidas de ukulele
Que o vento dispersa
Tua foto ele dispersa
Sobre amores ele versa
E baila sobre o tempo
Sobre as vidas
Numa mesma rima
Num dia sem querer
Num dia em que não se quer
Angústia
A existência
De um velho amor sinto falta
Ou apenas das vãs palavras

É vermelho, mas negro
É suave, mas branco
Vinho mais tinto
De chocolate
De adeus
Do amor
Que morre fúnebre
Em ataque funesto
Ansioso, nada honesto
Que padece no sexo
Se desvanece desonesto
Pela falta de nexo

Meu amor, eu te confesso:
Se morres, se te vais
Me olvidares lá nos montes
Que não sejam distantes
Nossas batidas dissonantes
Que sejam sempre constantes
Até tornarem ao mesmo compasso principiante

sábado, 25 de junho de 2016

Hibernação

Cai como gota

D
e
s
t
i
l
a
d
a

Como frio e chuva

E
  n
    a
      m
         o
           r
             a
               d
                 a

As lágrimas do saber
De quem não irá mais saber
Beijar
E te amar

Num frio louco e sem fim
Nu e frio
Tão pouco e sim

Com uma pá
Enterro esta dor
Com suor
Despeço este amor
Que desfaço em palavras
Como algo que nunca existiu
Mas que se pode voltar a sentir

E assim me cubro e durmo
Num sono pouco e sem fim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sombras no azul

Teus olhos são como velas
Como veias no escuro
Como sombras no azul
Que aumentam a imensidão
Me dão a dimensão
De quem és, quem fostes, de quem serás
Serás tu alguém algum dia?
Ou tua voz apenas melodia?
Se um dia ainda te digo "eu te amo"
Eu nem sei
Só sei
Que teu olhar
É imensidão
E a tua voz loucura
Que eu nunca digo "não".

Para Vilas

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Lânguido

Quero uma canção e um pôr-do-sol, por favor. Apaga esse teu cigarro e senta aqui. Não vou te segurar por muito tempo, pois minhas mãos já estão cansadas de minhas próprias fadigas. Me beija com aquele beijo, aquele breve beijo, teu lânguido beijo, frio beijo, frio como a morte e vai embora junto com o Sol. Quero a brisa fria da praia à noite, rasgando as minhas faces com cada pequeno grão de areia. Quero que o tempo rasgue minhas carnes e carregue os pedaços para onde quiser levar. Quero ir pra longe, pra onde eu puder me levar.