domingo, 31 de março de 2013

A vida é bonita.

A vida é bonita, mesmo quando não se tem assunto. Poesia é bonita, mesmo quando não tem do que se falar. É igual a e-mails sem assunto. Igualzinho a eu e o defunto. Eu sento do teu lado, coloco minha cadeira bem colada ao teu peito, mas nem temos do que falar.
Viver é igual a escrever, só que não fala. Mexer é igual estar, mas não estala. Esperar é igual chamar a atenção, só que não liga. Não ligas de tantas palavras vazias? Texto tão sem-assunto. Texto-defunto. Vamos fundo, meu bem, nessa arte de não dizer; apenas falar com os olhos. Fale comigo sem assunto. Fale comigo, mesmo sem assunto. Fale defunto! Não me olhe com olhos. Não me olhe com olhos de dó. Não me dê um nó e não me fale de amor. Apenas me ame. Fale comigo. Comigo mesmo. Comensure o peso. O peso das ideias - o peso das palavras - o peso de viver - o peso de ser - o peso estar - o peso de falar. É comédia dizer isso, mas não tenho mais assunto - nem isso, nem enguiço. Caí no chão, virei feitiço.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Quando tiver de ser

É desespero pra beijar,
   desespero pra ficar,
     desespero para amar,
       desespero pá!

– É tanto desespero, meu Deus, que eu nem sei mais!            Vejo pessoas subindo as paredes, consultando os astros, chorando e descabelando, matando e morrendo. –   É... deve ser amor mesmo!
                                                                – É amor demais!            –               
                                                                                                  Vejo gente que só quer ficar; e vão ficando e vão ficando e vão ficando... até que ficam! –  Ficam sós. Desespero ainda maior.        
  
                      Ninguém está isento, mas eu peço isenção, meu Deus!


                                                                                           Amor só ao sol, no meio dia.
                                                                                           Amor só ao som da melodia.
                                                                                           Amor só no sono bom.

                      Amor: seja bom.
                      Seja bom: seja amor! Seja quando for!
                                                                Quando for, quando tiver de ser.
                                                                                    Quando tiver de ser, há de ser:
                                                                                                                                     
                                                                                                                                      amor.

domingo, 17 de março de 2013

compleXo

I

Não se espante
Não é tão simples assim
Não me espante
Não é fácil pra mim

Fácil é os outros
Fácil são os outros
Fácil é ser outros.

Dilemas e problemas
Canções e fonemas
Tudo tão... É tudo tão...
Tão assim... Complexo demais pra mim!

Parecia tudo tão perfeito
Já tava tudo tão completo; compleXo
Reflexo retrátil contrátil contrato

Fiz um contrato com você
Sem você nem saber
E eu sem mais porque
Não consegui mais viver

Sou retrátil
E meu retrato está refletido no espelho
Preso no teu cabelo
Ou naquele teu chapéu
Ou no fumo em teu olhar.

Eu sou prisioneiro dos teus olhos
Sou conselheiro dos teus sonhos
E o guia das tuas loucuras

Eu, essa figura
Que vês (logo, não vês)
Sou um rock
Sem razão de ser

– Pra que entender?
Procures entender a razão de ser
De ter, de estar aqui
Assim... juntinho

Terninho! Esse terno amor
Essa terna canção
Essa terna poesia
(embora não seja) Reveja
Reveja ao reverso
O quanto é complexo
Te amar assim
Reveja ao reverso
O quanto é complexo
Ter você pra mim

Isto é um dilema
“Ter” é sempre um problema 
E chega de fonemas!

                            ***
II

Não me espantes
Não é simples assim
Não se espante
Não é nada fácil pra mim

Fácil é os outros
Fácil são os outros
Fácil é ser outros

Outros outros
Outros e outros
Tantos outros... e eu aqui

Eu sozinho assim...

Terninho! Mais terno q'esse amor
Mais terno q'essa canção
Mais terno c'a poesia
Vou assim... nessa Maresia

            ...              Reveja
Reveja ao reverso
O quão complexo é
Não ter você pra mim
Reveja ao reverso
O quanto é complexo
Não ver você em mim

Você vai e você vem
Você vem – você não vai!
As ondas vão
E ondas vêm
E assim não veem
um fim.

                       ***
III

O rio secô
E o barco encalhô.
A folha secô
Até a árvore murchô!
Cabô o amor
e eu aqui;
é o fim!

quinta-feira, 7 de março de 2013

É uma morte diária

perceber que os olhos te abandonaram. É terrível a sensação de perscrutar sem obter alguma resposta. É como se o sangue apodrecesse em tempo real em suas veias; como ser atacado repentinamente por uma artrite/artrose. Os olhos te abandonaram e apenas olhos vermelhos de morcegos te contemplam ao longe, te tomando de grande pavor. Talvez não seja tão terrível assim - apenas obscuro demais pra você entender. E o grito da suindara rasga o véu azul celeste, anunciando algo que me deixa inebriado. Os olhos se apagaram e agora tudo é escuro, tudo é solidão e eu realmente não sei o que fazer. Seus olhos se apagaram e agora eu não sei mais pra onde ir; qual farol que me irá guiar? Os faróis se apagaram; agora, sozinho, no negrume, no meio do mar...

sexta-feira, 1 de março de 2013

Versos ocos, palavras ocas V: "por isso que não dá em nada!"

Faltam as palavras
Falta tudo
Tudo faz falta.

O vazio me empata
A vida desempata comigo
Em meio ao perigo
Desempata comigo

Sem vontade de comer
Sem vontade de viver
Sem vontade de ser

Ser ou não ser: essa não é a questão!
A questão é a vida
Que não me dá razão
É um problema de rima
Que não me dá vazão

Não me permite pensar
Não me permite viver
Não me permite ser

Eis a questão: tudo é a questão!
E nada é a resposta
E é por isso que não dá em nada
Nada. Tudo.
Tudo. Nada.