sábado, 28 de dezembro de 2013

Um "hiato de desinspiração".

Tédio. Já não há palavra mais satisfatória no momento. Melancolia. Já não há calor bom nesse tormento. Só algumas poucas e novas inspirações. Nenhuma aspiração. Apenas o inalar deste ar mofado da cidade. Repetições. Sim, muitas repetições. Obsessões. Mais evidentes do que nunca. Muitos versos pela metade. Muito deserto. Motos fazendo manobras o tempo inteiro. Irritação. Frustração. Talvez já não caiba mais a mim escrever. Ou talvez seja só a falta do convívio diário. Ou talvez seja apenas mais um desses "hiatos de desinspiração" mesmo...

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Olhos.

Nosso olhos se encontraram na esquina
Quando ninguém tinha mais nada pra dizer
Nossos olhos caíram na rotina
Quando adormeci antes de ver o dia amanhecer
Nossos olhos se desencontraram
E eu esqueci o que eu ia fazer.

Minha vida anda tão cheia de olhos

São óleos que não exalam odor algum
Todos se reviram e se debatem contra o tempo - 
Em vão.
A minha vida é em vão.
Mas quem se importa?

Quando você entrou pelaquela porta...
Ah, a porta!
Abra a sua porta.
Abra suas comportas.
- Quanto comporta o seu coração?

Ele é cheio de olhos
Cheio de vontades
E nem um pouco à vontade.

Os olhos.
- Você pode ver?
Todos têm olhos.
Mas nem todos podem ver.

Olhos
São feitos de molhos
São molhos castanhos e castanho claro
Molhos de chave
Os olhos são as chaves
Para entrar no meu coração.

Entra aqui, meu bem.
Fica aqui, porque tem
Ótimos perfumes pra você inalar
O meu melhor e o meu pior
Você vai encontrar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

São pessoas, pessoal! - um poema pessoal.

Pessoas são inúteis. Nunca têm nada de interessante a declarar. Pessoas são fúteis. Te olham por um segundo e desprezam com o mesmo olhar. Pessoas não são nada. Nada são no meio do mar. Pessoas se confundem. Deveriam se encontrar. Pessoas se apaixonam. Deveriam raciocinar. Pessoas brincam. Deveriam saber amar. Pessoas são bichos. Deveriam se animar. Pessoas são animais. Deveriam bichar. Pessoas morrem. Deveriam evaporar. Pessoas se atrasam. Deveriam se pontuar.  Pessoas se sentem sós. O botão de SOS poderiam acionar. Pessoas perdem. Deveriam aprender a perdoar. Pessoas lutam. Sabiam que o luto é bom para aprender a ganhar? Pessoas pegam atalhos. Um caminho apenas deveriam trilhar. Pessoas iluminam. Luzes deveriam ganhar. Há os que se escurecem. Na eterna escuridão a mergulhar. Pessoas coisam. Vai entender. Pessoas nada são. Coisas pessoas se tornarão. Pessoas são pedestres. No outro lado sempre querem chegar. Pessoas tentam ser o que querem ser. Pessoas são o que deveriam ser. Pessoas se contradizem. Se contradizem as pessoas. Pessoas são preguiçosas. Na rede a balançar. Trabalham demais. A mente a barulhar. Pessoas se jogam de um prédio. Ou é prédio que empurra estas pessoas? Pessoas escrevem. Pessoas leem. Pessoas escrevem. Algumas apenas veem. Umas fazem rima. Outras procuram seu plural. Pessoas se explodem. A fim de um bom final. Pessoas matam. Matam pessoas. Matam a mata. De pessoas. Pessoas xingam. Pessoas editam. O erro cometido. No fim desditam. Pessoas correm. Atrás de troféus. Pessoas morrem. Jogadas ao léu. Quando vivas, pessoas soam. Depois de mortas, ainda mais ressoam. Pessoas pessoam. Sempre a pessoar. Pensando e pensando. Pessoas são. Persuasão. Pessoas. É. Pessoas. São. Pessoas. Apenas pessoas. Pessoas eu, pessoas tu, pessoas nós, Fernando, Pessoa. E vão fazendo mais pessoas...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Escorre a inspiração...

Deixe-me ser
Este ser infeliz
Da ponta do meu nariz
Escorre a tristeza...

- Mas que beleza!

Perdi
- de novo! - 
a inspiração.

domingo, 3 de novembro de 2013

Cartas pra ninguém II

Ei, psiu!

Levante sua cabeça.
Olhe para mim!
Olhe nos meus olhos.
Tira essa mágoa do peito.
Limpa esta lágrima!
Tira este sal que resseca tua face.
Nada de ressentimentos.
Pare de se rebaixar!
Pare de tentar aparentar frieza.
Pare de tentar ser o que não é.
Me dá a mão.
Me ama.
Roda comigo naquele brinquedo do parque.
Me apaixona.
Me ilude, sorrindo pra mim.
Para de fingir que não me viu!
Deixa todo este medo para trás.
Deixa a artificialidade da vida para outros,
afim de que aprendam que já não vale a pena...
Compra um vale pra mim.
Um vale-qualquer-coisa.
Qualquer coisa vale.
Qualquer coisa vale a pena.
Escreve com a pena.
Registra o que tens, o que sentes.
Mostre-me seus dentes.
Aquele olhar de soslaio.
Aquele sorriso cínico de canto de lábios.
Aquiesça com a cabeça.
Diga que me ama.
Nunca me esqueça.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Versos ocos, palavras ocas VI: vento-momento

E, de repente, as coisas ganham um novo tom, uma nova forma. Vou ao forno na fôrma com fermento incho e me acho aos pés cheio desse vazio. Vago peso dos sapatos dos nós amarrando os pés. Vagueio no rodeio que é a solidão dessa vida. Feliz vida! Roda-a-roda-da-vida. Viva a vida! Descalço na avenida. Feliz vida! Vivo no vivo vento-momento dessa jornada de jornaleiro, tentando distribuir algo de bom, mas emanando de mim essa ruindade de bondade que é sorrir.

 Entendeste? Leste?

 Acaso, leste?

Ao leste, ou melhor, a oeste põe-se o sol a cada si bemol no portal dessa repetição, desse desamor e desse favor que fizeste ao me abandonar. [ E desse favor que peço-te agora. Eu só peço: "por favor!" Não deixa pra depois; esse dia lindo, esse sorriso índio – nesse dia lindo, esse seu sorriso lindo, seus olhos de maçã – proibido pecado desacatado sem recato no recalque da lei da moral.

Namoral: a canção acabou, o pecado dissipou e a melodia finalmente desabrochou. A lágrima rolou. Continue amor, por favor! No favo do mel do abraço do quentinho escurinho perfeitinho diminutivo superlativo relativo. Reativa vida. Viva vida! Viva a liberdade para ir e vir - isto é, rir e chorar, seguir sem pensar todo dia. Às vezes varia, mas avaria todos os dia. Verbo-livre, verso-livre Porque não queres me amar? Viva o verbo, viva o verso! Viva o rock! Viva o violão e aquela tecla preta nos nossos olhos ao se cruzarem. Se cruzaram no cruzamento da cruz, no dia em que comi cuscuz e te vi jururu fazendo sinal da cruz. Pus. Tudo desconexo, tudo sem sentido. Inguiço, início, sinto o cinto segurar a palma da mão do colchão no chão daquele nosso lar. Ah, lar-doce-lar! Bom-bom. Bom mesmo é sonhar! Bom mesmo é amar. Ser amado e amar também. E eu, saudoso das palavras, digo: Amém!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Paráfrases do que você não disse

Seus olhos puxados e ternos e seu jeito distante escondem muitas coisas. Você está sempre se afastando das coisas e das pessoas, como se seu mundinho te absorvesse o tempo inteiro. Seus lábios são difíceis de ler e é realmente difícil acompanhar o seu ritmo. Você tenta parecer indiferente ao que acontece ao redor, como alguém sem sentimentos, sem coração. Um papel cai. Você se apressa em pegar do chão. Seu olhar paira sobre a janela do ônibus como se aquela fosse a única realidade existente naquele momento. Sua voz sibila coisas que, por mais que eu tente entender, não consigo.
É.
Eu não consigo.
Acho que eu não entendo...
- Seu coração, a que horas bate?
Não acredito em gente, muito menos em quem diz ter coração de pedra. - Você diz? Então... você disse isso? Posso te parafrasear? Não? Não tenho muito a declarar, pois pouco sei sobre ti, mas é que ultimamente tenho lido muitos textos de gente que espera por alguém. Não espero por alguém. Prefiro ninguém. Começar do 0, ser V1D4 L0K4, escrever mais uma poesia oca. Enquanto escrevo estes versos, minh'alma já se dói por dentro de saudade do que nunca tive e do que já perdi.
- Paixão, cadê você?
- Inspiração, se foi porquê?
...


                                                    Oh, mundo cruel!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Apenas mais uma poesia oca ii

Ir além
Além do ir
Ir.

Viver sem ninguém
Ninguém sem alguém
Quem?

Viajar para
Para viajar
Basta ser.

Está na hora
Hora de estar
Ora!

Sorrir também
E também sorrir
Rir.

Tanta coisa por aí
Coisa demasiada
Inclusive nada.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eu nem deveria...

Eu te amo,
mas não me engano:
daqui há pouco já nem te quero mais.
Eu me engano
por um decano de dias
Farta minh'alma já se ia
Ou já se confundia
que eu nem deveria estar,
nem deveria amar -
já que não acredito mais no tal do amor.
Dor.
É a saudade que me dói e me consome.
Desejo você com fome
E, então, você some.
Ora, suma da minha frente!

domingo, 6 de outubro de 2013

Sem meios termos

Não quero saber de textos mornos. De meios termos. De incompletos. Não quero saber quem somos. Somos meios termos. Incompletos. Sem versos suficientes para completar o número de caracteres. Somos a busca por palavras para enriquecer o texto. Somos a tensão por terminar e recomeçar. Somos ávidas palavras procurando por si mesmas para serem lidas. Somos um surto de criatividade que apenas busca sossego, sinceridade.

Não quero saber de textos mornos. De termos mortos. Descomplexos. Não quero saber quem somos. Somos versos insuficientes, mas completos a tal ponto de satisfazer-se. Somos metades. Metades sem vontade de escrever-se a si mesmas, mas deixando as páginas passarem naturalmente. Somos desnaturalmente uma porção de letras. Garranchos. Somos borrões tentando encontrar um jeito de se juntar e formar algo que dê sentido. Somos a falta de sentido. Sinto. Sinto muito. E sinto mesmo. Segure-se no cinto!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Diálogos entre eu e eu III

Depois de tanto remoer pensamentos
Depois de tantos vícios, tantas voltas
Cá estou eu novamente nesses diálogos fúteis
Tentando me convencer de nada
Tentando provar que não dói mais
Mas bastou uma palavra:
                                                    - Ela nunca se importou!

                                                                                                      E foi assim que eu parti.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Versos ocos, palavras ocas VII: transbordo

Transbordar
Transpor a borda
Mudar o curso das águas
Romper.

Transposição
Imposição
Impor as mão
Tocar as palavras
Sentir.

Falar o sentido
Fazer sentir
Ideias
 E fluxos
----------------------
Fluxos
E ideias
Fluxo de ideias
Apenas f luxos.

Fluxo dos olhos
Fluxo das mãos
Fluxo de carros
Visão.

Contramão
Na contramão
Eu vou
Então...
Transposição!

Sair da posição
Remetente
Destinatário
Razão
Não há mais.

Sem palavras demais
Mas capaz
De ir além 
Nos olhos.

Os olhos
Seus olhos
Posso ver
E chegar
Ao transbordo
Transbordar.

sábado, 31 de agosto de 2013

Épico

De sertões que eu não conheço
De passados que já me esqueço
De luares que eu não vi
E de lágrimas que já sofri

De amores que já passaram
De presentes que não ficaram
De futuros que inda estão por vir – e daqueles que não virão –
Os vivos verão!

Me falam de mágoas que não me magoaram
De alegrias que nem meus pais presenciaram
Não sinto a nostalgia de um passado que não vivi;
Só posso sorrir com o presente que está por vir

Não vi as bandeiradas
Não sou das vaquejadas
Meus pés não pisaram o pantanal
E não, eu não moro na metrópole boçal

Sou de terras daqui
Mas não conheço o sertão
Nunca vi e nem verei as minas
Mas sou sim das terras gerais!

Terra feita de paralelepípedo, depois de asfalto
Nunca corri no mato, nem comi carne de gato
Não habito no mato, na mata; na densa floresta
Mas também não sou preguiçoso! Não vivo com os pés fora da rede!
Eu também lanço as minhas redes!

E não, não sou pescador!
Não sou industriário
Tampouco agiota ou retardatário
Não sou moço bonito, nem caboclo ou burguês
Sou filho de minha mãe! – e não sou chinês.

Devoto de santo nenhum eu sou
Alienado, cá na frente já estou
Entendendo o que custam a entender
Mas me retardando do que (devo?) eu saber

Fiz essa poesia só pra declarar o gosto de estar,
Estar onde eu estou
E a vontade de ir
Pra onde o vento já me levou

E não existem fronteiras
Quando se é baiano
Com o coração cigano
Sou brasileirano
E falo brasilês!

Mas saibam todos: vivo hoje, aqui
E não preciso ser ninguém – tampouco um número!
Não careço ser identificado
Ou nacionalizado
Sou um iludido; coração perdido
Sou louco varrido; coração partido

Não gosto de carnaval
E só um pouco de futebol
Música popular não existe
Assim como Fá bemol

Árvores não ficam tristes
Só vocês que me leem
E o amanhã sim existe
Mas só pra aqueles que veem

É bom fingir que nada sei
Mas se de tudo sei
Ou um pouco captei
Do mundo toda essa loucura herdei

Sócrates Hipócrates!
Mundi mendacem!
Oh, vida sem sorte!
E quem disse q’isso existe?
Oras, qual!
Usar essa linguagem que nunca me pertenceu
Muito me faz mal

Por isso concluo:
Sou um ser normal
Mas não sou animal
Nem racional nem irracional
Sou quem sou
Do jeito que me predestinou
Deus
E queira ou não queira você
Vamos um dia todos morrer.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

06/08/2013

Eugoísmo

Sinto um vazio interior tão grande. Uma falta de importância. Mas não sinto falta de alguém importante, pois ninguém me é importante. Me amo de uma forma doentia, de uma forma que me mata e me corrói todos os dias por dentro. Sabe, eu mesmo, por inúmeras vezes, pouco me importo se meu eu acabar, afinal, são tantos eu's que se misturam entre si...
Você não sabe o quão bom é estar sozinho, longe de toda turbulência. 

– Preciso ouvir música,
             preciso me soltar, desabafar,
                        me desprender de mim mesmo,
                                                           de alguns eu's.

Coincidentemente é aula de texto agora e eu nem me dei conta disso..

Escrever liberta
Escrever refaz
Escrever completa
Escrever me distrai... aliás não:
Me põe mais a par de meus problemas!

sábado, 24 de agosto de 2013

Ai.

Ai,
Chega de depressão!
Vamos dormir numa caixa de pizza
Rolar numa caixa de sapatos
Mergulhar numa piscina de legumes estragados

Ai,
Chega de desilusão!
Vamos aprender a escrever errado
Desenhar um mapa ao contrário
Chorar pelo avesso

Ai,
Chega de tanto ‘ão’,
De ouvir só não,
De ouvir música sozinhos,
Vamos redesenhar um caminho!

Ai!
Não dói mais!
Escrever distrai.
Bem faz é respirar
E saber que estou vivo.


Vamos fazer uma festinha,
Celebrar a vida
Que se resume a esse momento
Aqui e agora

Ai! Vou escrever!
Até não mais doer!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Súbita explosão

Uma explosão de ideias
Um súbito relance
Aproveito a inspiração
Antes que não mais me alcance

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Um e outros rocks

Você me fez gostar daquela música, não sei ao certo o porquê. Talvez, porque assim como nós, a música pareça dessincronizada e desafinada. Você é tão leve, tão simples, tão perfeita. Seus olhos carregam um pouco de tristeza. Você é um rock, uma pedra, um túmulo provocante e com a tampa posta fora de seu lugar. Um tumulto, só que sem multidão e em meio à chuva.

                          –  Qual o seu segredo?
                            Qual o nosso mistério?

                                                         Você me faz sentir num filme sem sentido algum. Será que toda vez vai ser assim?... assim como aquelas músicas que não tem um final  motivo que me faz odiá-las!  músicas que diminuem o volume até a mudez, mas talvez isso seja menos dolorido do que um corte abrupto.
Inda nem inventei um nome pra você, inda nem sei se você é sol, calor, dia ou noite. Mas creio que seja chuva mesmo; a tempestade, o vento impetuoso em pleno mar aberto. Você é a tristeza  mas nisto consiste sua beleza. Nem tudo segue a ordem natural das coisas...


***

             Imagino que este seja um texto antigo, de quando eu ainda era jovem e carregava muitas paixões e muitas ilusões e muitas desilusões e muitas decepções também. De quando idealizava um amor perfeito, um alguém perfeito. Hoje vejo apenas a guitarra velha, jogada num canto qualquer do teu quarto, um túmulo aberto e uma pedra posta com um recado amarrado. Um anexo de e-mail. Palavras sem nexo. Nunca tive coragem de lê-lo, ainda um dia, quem sabe... mas já é deveras tarde esta primavera, estar aqui sozinho, nesse dia bonito e ensolarado pode não ser mais tão entediante, até porque, lembro-me bem daquela frase jovial, daqueles tempos pueris  " Nem tudo segue a ordem natural das coisas".
Hoje são outros rocks, outras chuvas inundando a minha vida inteira e vendo valer o que não valeu não valer à pena. Vendo o tanto que valho. Vendo o tanto o tenho. Eu vendo o tanto que tenho por paz e sossego, sem mais segredos, sem mais mistérios me agrego ao filme triste, mas belo em pleno mar aberto naquelas ondas em que vagueei tudo para trás. Nado para trás e abro aquele misterioso bilhete, que me revela como uma facada no peito o quanto sou comum, um qualquer, mais um passageiro que passou percebidamente desapercebido pelo bonde da vida.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Frágil

Porra! Você não cansa de dizer sempre as mesmas coisas, não? Será que você não percebe o quanto sua vida é entediante e chata? Você não se cansa de ouvir os mesmos besteróis sempre, não? De ouvir sempre as mesmas músicas e ver cada um em seu mundinho perfeito, protegido por cristais de gelo que  acredita-se  não se podem quebrar. Será que é inocente a sua perguntação tola de cada dia? E também as suas respostas repetitivas? Será que não percebe que esse seu casulo de solidão não vai te levar a lugar nenhum? Mas será possível que tu num vê que essa badalação toda uma hora acaba? Por que tu aguenta todo esse sofrimento em silêncio? É masoquismo isso? O que ainda te mantém de pé? O que te faz viver? Cadê teu combustível, tua alegria diária de cada dia? Cadê aquelas pessoas que você amava, às quais jurou amor eterno? Pois bem, vejo que aprendeu que nada é pra sempre e que promessas se quebram como vasos, que cada vida, cada casulo se transforma e parte para queda livre ou pro céu azul. Por que te é tão difícil de entender ou de questionar ou de responder? Pra que quatro pq's? Mas será que você ainda não viu que a desgraça faz parte da vida e que o tempo corre atropelando a todos pelo caminho? Por que você não morre? Por que não faz algo de bom? Por que não se mata? Por que se mostra tão distante, tão ruim? Pra que toda essa loucura, toda essa euforia? Por que não se mata de amor? Por que não quebrou aquela garrafa de cerveja na cabeça daquele desgraçado? Por que matou seu filho? Por que fingiu ser quem não era só para agradar os outros? Por que fugiu daquela situação... aliás e por que não fugir, então? Por que escreves? Por que tu lês? Tu lês? Ei! Você me lê?! Será mesmo? Por que toda essa paranóia? Por que é tão fácil te manipular? Pra que essa futilidade de gramática, matemática? Quantas gramas tem sua alma? Quanto vale sua vida? E a faculdade? E as namoradas? E o raio que o parta? E o grito, você ouviu? Eu não ouvi. Ainda não ouvi aquela música. Eu ouço vozes à noite. Tive um pesadelo. Eu não sei ler. Sou deficiente visual. Matou os ratos do banheiro? Não tem mais papel! Faltou tinta no tinteiro! E o Limoeiro? Eu li "Moeiro"? Quem é Moeiro? Aliás, quem é você? O que você está tentando dizer? Garçom, mais um pfvr! Olha o pássaro na janela! Olha a Lua! Olha a rua! Paciência... Vamos! vamos! Vamos fumar mais um? Vamos tomar um café? Ninguém te perguntou nada! Ninguém me interessa! E Tereza? Cadê aquela máquina de costura? Cadê Lina? Cadê aquela velha? Dei-lhe uns bofetões pra aprender a ficar quieto! Ah! aquele menino travesso! Pirralho! Peste! Foi pro travesseiro. Consultou o travesseiro. Consultou as cartas. Virou ninfomaníaco. Pirei. Sou piromaníaco. Sou maníaco. O maníaco do parque foi preso! Amoníaco! Demoníaco! Foi preso furtando uma loja. Faltou-lhe forças para segurá-la. Perdeu a mão. Perdeu o braço sumiu a minha chave de casa! Caiu a asa do avião! Sumiu a casca que lhe protegia... E aquela agonia? E aquela inspiração toda? Foi tudo fantasia. Acordei, só mais um dia.

domingo, 4 de agosto de 2013

Eu, indigente

Eu sou aquele rato anormal
Que você vê (não vê)
todos os dias

Eu sou o indivíduo
Que não anda pelas ruas 

Indigente
Demente

–  Sou eu.
Sem mais porquê.

Eu que falo o que falo
E você pouco quer saber

Eu, o artista do semáforo
O mendigo, o louco (!)
De tudo sei um pouco!  
Logo não sei nada.
Nada, uma granada.
Ser você não está com nada!

Sou apenas um número.
Nu.
Sou apenas mais um
Diante de ti, sou ser nenhum 
(E não sou animal!) –  mas sou ser irracional.
Sou do bem, sou do mal

 Eu sei que não sou ninguém!

Padeço de felicidade sem igual
Ah! Pura ironia, pura tristeza
Pura hipocrisia, pura falsidade.

– E esse ar que vem da cidade?
Nos contamina, mais nóiz respira.

Sou do conta, da companhia, da congestão
Flanelinha de estacionamento, sou a má digestão
Sou sorvete, sou pastel
E meu triste eu, morreu no beleléu.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Esquizofrenicamente

Sinto-me louco, porém mais vivo do que nunca. Talvez haja alguma relação entre a vida, a morte e a loucura. Talvez viver seja estar em plena consciência de que se pode enlouquecer, talvez enlouquecer seja ter a plena consciência do que não se pode viver ou talvez ainda morrer seja não poder viver, pois não se pode enlouquecer. Quero enlouquecer! Quero enlouquecer mais a cada segundo. Quero ouvir mais passos, mais fortes a cada segundo, quero andar esquizofrenicamente pelas ruas, sem destino, sem saber onde chegar. Quero me encontrar.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Inquietações.

Inquietações.
São olhos e inquietações.

Mais inquietações.
Em uma folha de papel há muito pouco incômodo.

Suores e cabelos,
Algumas poucas gramas de desespero.

Teus olhos têm medo;
Meus olhos te causam medo.
Contrações.
Dores de parto.
Gemidos 
um orgasmo!

Um corpo que se estira
Ou se debate
Dentro de uma gaiola.

Um palavrão.
Uma palavra certa
No momento certo
Veja bem se estou correto:

Hoje é dia!
Hoje tem!
Tem poesia
E inquietações também!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Da última vez...

Da última vez que te vi
Eu não te reconheci
E tive que partir
Mas foi você quem deixou saudades

Da última vez que te vi
Foi a primeira
E eu não te esqueci
Teu olho me ganhou em uma só jogada

Da última vez que te vi
Foi a primeira  e desespero:
a última jamais!

Da última vez que te vi
Nunca pensei em ser tão repetitivo e tão ridículo,
mas fico a pensar:
Se eu não fosse louco não te amaria
e armaria!  jamais escreveria

Da última vez que te vi
Gostaria que fosses derradeira ilusão
A última vã sensação
Porque não sei se te verei novamente

São tantos últimos, tantos inícios
Mas tudo sempre acaba no vazio...

Da última vez que te vi
Eu fiquei no vácuo
No vácuo, mas feliz
Feliz, mas no vácuo
 Não, eu não estava feliz!
E muito menos com essa recessividade
Que zera minhas chances de te ver

Da última vez que te vi
Me arrependi de não ter sentado do teu lado
Para sentir o cheiro
Daquela tua blusa rosa

Da última vez que te vi
Eu tive medo de morrer mais uma rosa

Da última vez que te vi
Você me viu
Como se não fosse a primeira vez
E assim morri nessa paixão tola
Como se fosse a primeira vez

Da última vez que te vi
Comparei meu desespero ao dos últimos meses e percebi
*Que sem amor, sem ilusão
A minha vida é em vão 
Isso é morrer!

Morrer sem você
Morrer sem te ver
Pelo menos mais uma vez
Pelo menos mais uma última vez

Da última vez que te vi
Você estava aqui em minha mente
E acordei feito um demente
Vendo ser você apenas mais uma miragem no deserto

Trecho da canção Cuidar mais de mim  Paula Fernandes

domingo, 14 de julho de 2013

Uma forma mecânica de sentir

Procurei as palavras certas pra conter essa tristeza, mas descobri que palavras são só palavras. Uma forma mecânica de sentir. Descobri também que palavras não valem nada, assim como agente deixa de sentir. Inda não descobri uma forma de superar tudo isso, mas graças a Deus você se foi de meu caminho antes que eu tombasse no seu muro  o fim do meu mundo de ilusão. Ah! quem dera fosse o fim! Por que escrevo mesmo? Por quem transbordo o peso? dos sentimentos e emoções. Talvez eu deva ter esquecido que rimas não são palavras repetidas. Malditos advérbios! Maldito destino! Por que não ser um "não ser" escrito? Inda talvez fosse melhor não transbordar  como se isso me resolvesse alguma coisa! Não me obrigo a nada, por isso, transbordo por dentro de tudo aquilo que nunca vivi... talvez por preguiça, talvez por comodidade mesmo. Mecanicamente fui arrastado pelaquele mar e me esbagacei em meio às águas da correnteza. Vivi num instante e vi que nada disso fazia sentido  nem o português, tampouco o brasilês. Que sentir é ilusão, que viver é mera sensação.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Mas, e agora?

A única maneira de sobreviver é me jogando do precipício? A única alternativa será me entregar a tudo que eu ia à contramão? E o amanhã que me prometeram? E todas aqueles certezas que se perderam? O amanhã é mais nada. O futuro, uma roubada!
Me prenderam numa cilada que é existir e matar tudo dentro de mim. Mudanças que ocorrem no tempo e no espaço, mas tudo que existe é o relógio e a sua vontade de contar o tempo. A sua vontade? A minha? A de quem mesmo?!
Sabe, eu perdi aquela vontade de viver, perdi aquelas quimeras simplistas matinais, perdi... Eu me perdi. Perdi tudo quanto queria - mera fantasia! querer tudo o que se pode... eu posso continuar apenas existindo? Ou existindo continuar apenas posso?. A existência é um poço, um poço sem fundo no qual pisei bem fundo na lama naquele dia de chuva daquela minha imaginação mútua. Eu só queria uma rima. Eu só queria rimar. Eu só queria amar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vanidadade II

Escrever por escrever
Só pra passar o tempo
Só para não ler
O que se passa no tempo

Fazer por fazer
Só pra ignorar o relógio
Só pra deixar de ver
O que é tão óbvio

Viver por viver
Só pra dar uma espiada
Só pra perceber
O que fazes na sacada

E mais uma vez escrever
O que não posso esquecer
Mais uma vez escrever
O que nunca fui viver

Fiz só por fazer
Vivi só por viver
Mas nunca esqueci
O que não escolhi fazer:
Amar você.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Uma daquelas histórias que não se vê por aí

Era uma vez uma casinha, uma casinha era uma vez.
                                                                                    Já não é mais.
                                                                                                    Eu vi-a ao longe,
                                                                                                              tão longínqua quanto as águas daquele rio caudaloso.

Era uma vez um rio caudaloso;
                                         o meu amor morreu afogado nele.
                                                           Morreu, já não vive mais.
                                                           Mas sempre senti-o tão distante, que tanto faz.

Era uma vez um tanto faz,
tanto fazia
que tanto fez.
                                            Fez, sofreu, riu e sorriu.
                                            Tanto fez que não vingou.

Era vez uma planta que não vingou.
Ela parecia a mais bela e a mais distinta
                                                                        - um oásis num deserto.

                                                                        Trágico. Era uma miragem.

Era uma vez uma miragem, mas não o era,
pois nunca existiu.

domingo, 30 de junho de 2013

versinhos profanos

Aquele vinho amargo
Que tomei amargo
Foi mais doce
Q'ocê

Aquele vinho doce
Que comprei na páscoa
Foi mais pascoal
Que te ver

O pão que ceei
De amargura das agruras
Foi amassado
Pelo diabo
De não te ter

Parti o pão
Ceei a ceia
Da sua morte
Do seu sangue
Bebi.

O pão que o diabo amassou
Foi pro raio que o parta
Você
Foi

Foi você
 Que foi

Quem foi?

Foi você
 Que foi?

Foi pra nunca mais
Foi pro raio que o parta

segunda-feira, 17 de junho de 2013

14/10/2012

E, de repente,
uma vontade de saber de tudo um pouco
De um pouco tudo
A vontade que me dá
A vontade que me tem
É de engolir o mundo  gulosamente!
Sem mastigar! Tudo de uma vez!

E, de repente,
estou soturno, noturno, diurno,
vespertino, vesperal
Estou com pressa, estou mentindo
Eu perco o lápis e a inspiração
Minha cabeça pira e a mente gira;
de preguiça, de raiva e de ódio.

Quem foi que disse que o poeta gosta de estudar?
Quem foi que prometeu a matemática decifrar?

Eu escrevo

Tu escreves
Ele não escreve
Nós escrevemos
Vós escrevais
E eles mentem.

Como dizia (diz!) o sábio:

"Tudo é canseira!"

Saber demais é como comer demais

Mentira é que nunca é demais
Vá dormir, arrumar suas coisas
E deixe tudo pra trás

quarta-feira, 12 de junho de 2013

"Dia dos namorados"

A vida é muito mais que um "Dia dos namorados"
A vida é como um dia, mas um dia não pode resumir uma vida inteira

A vida é muito mais que uma data
Muito mais do que beijos, paixões e ilusões
A vida não pode se definir e morrer
Num gôzo de devaneios sem fim
Pois está lá fora e cá dentro também
Não se limita nas cercas e nem tapume tem

A vida é muito mais que uma manhã, tarde e noite
Não se estende apenas a esse inverno rigoroso
Se estende em cada estação
Trazendo renovo e fazendo brotar 
aquele lírio no seu tempo oportuno

A vida é bem mais do que essas palavras podem expressar
E não termina onde parece acabar
É bem mais do que rimas, embora mera fantasia
Não pode morrer num transitório amor
Mas morre a jorrar um coração de dor

A vida é bem mais do que bens
Bem mais do que um cartão
Mais do que flores e 'poeminhas bonitinhos'
A vida está dentro de cada entrelinha
De cada aroma, de cada sintoma
De paixão

A vida é bem mais do que horas, minutos e segundos
Mais do que 'esse deus chamado relógio'
Mais do que esse deus chamado dinheiro
Mais do que esse deus chamado eu.

A vida não se resume a uma data efêmera
A um dia de consumismo
A vida não se resume a dizer um 'eu te amo'
hoje, só porque é dia dos namorados

A vida não se resume a um
Se divide por dois
Subtrai todos esses feriados inúteis
E se multiplica por uma vida inteira