De
passados que já me esqueço
De
luares que eu não vi
E de
lágrimas que já sofri
De
amores que já passaram
De
presentes que não ficaram
De
futuros que inda estão por vir – e daqueles que não virão –
Os
vivos verão!
Me falam
de mágoas que não me magoaram
De
alegrias que nem meus pais presenciaram
Não
sinto a nostalgia de um passado que não vivi;
Só
posso sorrir com o presente que está por vir
Não
vi as bandeiradas
Não
sou das vaquejadas
Meus
pés não pisaram o pantanal
E
não, eu não moro na metrópole boçal
Sou
de terras daqui
Mas
não conheço o sertão
Nunca
vi e nem verei as minas
Mas
sou sim das terras gerais!
Terra
feita de paralelepípedo, depois de asfalto
Nunca
corri no mato, nem comi carne de gato
Não
habito no mato, na mata; na densa floresta
Mas
também não sou preguiçoso! Não vivo com os pés fora da rede!
Eu
também lanço as minhas redes!
E não,
não sou pescador!
Não
sou industriário
Tampouco
agiota ou retardatário
Não
sou moço bonito, nem caboclo ou burguês
Sou
filho de minha mãe! – e não sou chinês.
Devoto
de santo nenhum eu sou
Alienado,
cá na frente já estou
Entendendo
o que custam a entender
Mas
me retardando do que (devo?) eu saber
Fiz
essa poesia só pra declarar o gosto de estar,
Estar
onde eu estou
E a
vontade de ir
Pra
onde o vento já me levou
E
não existem fronteiras
Quando
se é baiano
Com
o coração cigano
Sou
brasileirano
E
falo brasilês!
Mas
saibam todos: vivo hoje, aqui
E não
preciso ser ninguém – tampouco um número!
Não
careço ser identificado
Ou
nacionalizado
Sou
um iludido; coração perdido
Sou louco
varrido; coração partido
Não
gosto de carnaval
E só
um pouco de futebol
Música
popular não existe
Assim
como Fá bemol
Árvores
não ficam tristes
Só
vocês que me leem
E o
amanhã sim existe
Mas
só pra aqueles que veem
É
bom fingir que nada sei
Mas
se de tudo sei
Ou
um pouco captei
Do
mundo toda essa loucura herdei
Sócrates
Hipócrates!
Mundi mendacem!
Oh,
vida sem sorte!
E
quem disse q’isso existe?
Oras,
qual!
Usar
essa linguagem que nunca me pertenceu
Muito
me faz mal
Por
isso concluo:
Sou
um ser normal
Mas
não sou animal
Nem
racional nem irracional
Sou
quem sou
Do
jeito que me predestinou
Deus
E
queira ou não queira você
Vamos um dia todos
morrer.
gostei daqui! :D
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