sábado, 8 de junho de 2013

Daquela sua última carta fúnebre

Ah, amor!

Eu já borrei tanto essa carta, já sujei tanto esse papel, já fiz papel de besta e já não tenho realmente sobre o que escrever. Já perdi o senso crítico e fugi do senso comum - e tudo isso por um amor que não me pertencia. Eu busquei mil e uma formas de me expressar, de aclarar sentimentos ora ocultos, que ora eu mesmo desconhecia. Me humilhei, me perdi... mas em nome do que? Sim! todos esperamos sempre algo em troca. Eu esperava registrar esse texto à mão e não dessa forma, nem onde eu o estou fazendo agora.

Ah, amor!
Queria te encontrar apenas mais uma vez, só para mostrar o cemitério dos meus sonhos. Queria conseguir chorar, mas a vida enrijeceu os músculos da minha face de tal forma que lágrimas nem mais se forma. Sinto-me preso num formol, apenas conservado até a hora de morrer, mas essa carta já é tão ilegítima, como quando eu perdi você. Perdi seus olhos, sua unha, sua cor, a sua mãe, o seu pai, o seu irmão e todos os outros inconvenientes... Talvez um dia ainda, quem sabe, eu vá rir da sua cara jogada na lama, sem ninguém, mas eu não sou assim. Eu não sou seu amor, mas não sei ser assim.

Ah, meu amor!
A poça que eu me tornei - lama da mais baixa qualidade - está se secando com o sol - vou me tornar em barro - um vaso de barro a ser atirado ao léu novamente por suas mãos. Só porque não sirvo para ornamentar seu coração.
Amor, você poderia ter me doado para a reciclagem, mas preferiu me ver no lixão, sem chão, sem emoção. Você preferiu o nada e ainda me veio com lições de moral. Sua careta afaga os outros e me mantem bem longe de ti.

Meu amor,

se chegares a ler essa carta,
lembre-se que eu não sou o seu amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário